Moradores denunciam abordagens truculentas após PM ter arma levada na zona sul de SP

Em vídeo, jovem leva tapa na cara por um policial em uma viela do bairro Jardim Rebouças; “Enquanto não acharem a arma, o negócio vai ficar feio”, teriam dito aos moradores

Um vídeo gravado por moradores mostra um rapaz recebendo um tapa no rosto durante abordagem policial neste sábado (9/4) na Viela 630, na Rua Cinco Irmãos, bairro de Jardim Rebouças, próximo à região do Campo Limpo, na zona sul da cidade de São Paulo.

Uma mulher disse à reportagem que moradores passaram a enviar mensagens para tomar cuidado na região após um PM ter sofrido um acidente na travessa da Rua Diogo Martins com a Rua Doutor Hugo Lacorte Vitale e ter tido a arma levada. De acordo com reportagem do SBT News, de sexta-feira (8/4), o soldado Luan Melgarejo Calaca, da Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas (Rocam), estaria perseguindo dois suspeitos em motos quando teria perdido o controle do veículo. Em seguida, eles teriam levado sua arma. Já uma testemunha disse ao jornal que os suspeitos fugiram e que a arma foi levada por uma pessoa que passava pelo local a pé.

Desde então, moradores relataram abordagens truculentas da polícia. Uma das mensagens enviadas para a Ponte de uma trabalhadora diz que PMs passaram pelas ruas “mandando fechar tudo”. “Aqui no meu trabalho, tivemos que fechar às pressas e o policial que falou com a gente falou que, enquanto essa arma não for achada, ninguém vai ter paz, independente (sic) se é morador, trabalhador ou envolvido [com o tráfico], eles vão bater em todo mundo.”

Áudios de moradores enviados à Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, movimento que denuncia violações de direitos humanos nas periferias, também trazem o mesmo teor. “Eram cinco viaturas, pararam ali perto de casa batendo nas portas das casas em que eles foram vistos entrando, quase arrebentaram a porta”, conta uma mulher. “Eu estava sentada no portão e os meninos na escada batendo card. Pararam as viaturas na frente de casa, desceram e um policial falou assim para mim: ‘vocês moram aí?’, eu falei ‘sim’. Ele pegou e falou: ‘vão fazendo o favor de entrar todo mundo aí, vai todo mundo para dentro porque hoje o negócio vai ficar feio, o negócio vai ficar perigoso aqui hoje’. Eles foram até a igreja, mandou fechar a igreja, mandou fechar o Mix Burguer.”

https://ponte.org/moradores-vivem-dias-tensos-apos-morte-de-suposto-justiceiro-da-zona-sul-de-sp/

Vídeos enviados à reportagem, que a Rede pediu para não serem divulgados por identificarem as residências de moradores, mostram ao menos quatro viaturas circulando pelas ruas. A Ponte conseguiu identificar as inscrições de três delas: M-16307, M-16317 e M-16327, o que significa que são policiais da 3ª Companhia do 16º Batalhão de Policia Militar Metropolitano. Esse é um dos batalhões em que parte dos integrantes utilizam câmeras nas fardas.

A região é próxima do bairro Parque Arariba, também na zona sul da capital, e que moradores denunciaram à Ponte, há uma semana, estarem vivendo dias tensos após o assassinato a tiros do ex-cabo da Polícia Militar Fabiano Bueno, em 28 de março, que faria parte de um grupo de justiceiros. Ele seria responsável pela venda de internet e TV a cabo no bairro e o negócio teria sido alvo de disputa por um homem conhecido como Nenê, suposto integrante da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que cuidava da prestação desses serviços. Nenê foi preso e, ao deixar a prisão, teria o objetivo de retomar esse controle.

Ajude a Ponte!

Após a morte, o clima no local e nos bairros no entorno é de tensão e, embora não tenha chegado nenhuma ordem direta, os comerciantes e as escolas dos bairros adotaram uma espécie de toque de recolher, fechando tudo mais cedo e realizando apenas serviços delivery.

O que diz a polícia

A Ponte encaminhou o vídeo e questionou a respeito da ação contra o soldado Luan Calaca. Um subtenente da Sala de Imprensa da PM, por telefone, pediu as inscrições das viaturas ou nomes das ruas para poder instaurar um procedimento disciplinar, o que foi enviado em seguida e aguarda um retorno.

Já que Tamo junto até aqui…

Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

Ajude

mais lidas