‘Renato, Um de Nós’: Filme conta a saga do processo de cassação de Renato Freitas

Obra do diretor argentino-brasileiro Carlos Pronzato chega às plataformas digitais ainda em junho. “Renato é o Zumbi de Curitiba”, diz o autor sobre o vereador curitibano

O vereador Rento Freitas ao lado da liderança indígena Kretã Kaigang em uma cena de “Renato, Um de Nós” | Foto: Divulgação

O cineasta argentino Carlos Pronzato passou dez dias em Curitiba (PR) ao lado do vereador Renato Freitas (PT) para contar a história do processo de cassação pélo qual passa o parlamentar. Com duração de cinquenta minutos, o filme Renato, Um de Nós mostra toda a mobilização que vem sendo feita na capital paranaense pela absolvição do petista, além de dar a versão do personagem principal sobre os fatos ocorridos.

A estreia do média-metragem, gravado e finalizado ainda no mês de maio, foi em um acampamento do Movimentos dos Sem Terra (MST) no Paraná. A segunda exibição ocorreu na última segunda-feira (30/5) no Sindicato dos Bancários de São Paulo com a presença do vereador e do diretor. Também estiveram presentes no evento representantes de centrais sindicais, movimentos sociais e ativistas da causa negra.

Renato é o mais recente personagem a ter uma parte da sua história contada pelo diretor argentino que mora no Brasil desde 1982 e se declara “anarco-guevarista”. Pronzato tem uma extensa obra cinematográfica junto a personagens e temas sociais. Ele já fez filmes sobre o Padre Júlio Lancelotti (Fé e Rebeldia, de 2021), o capoeirista Moa do Katendê (A Primeira Vítima, 2019), a desocupação do Pinheirinho (Tiraram Minha Casa, Tiraram Minha Vida, 2014) e a relação entre Paulo Freire e Dom Evaristo Arns (Dois Paulos na Pauliceia, 2021).

Segundo o diretor Carlos Pronzato, Renato, Um de Nós terá mais uma exibição para convidados no Rio de Janeiro no dia 9 de junho, e a previsão é que logo após o filme fique disponível em streaming para o público. “Esse filme é uma homenagem ao Renato e toda a sua luta. Tenho para mim que ele é uma representação atual de Zumbi dos Palmares. É o Zumbi de Curitiba”, definiu Pronzato para o público antes do início da sessão.  

O filme toca sutilmente e de forma indireta sobre temas da vida pessoal da visa do Renato Freitas, como ter tido um pai que passou anos na cadeia, a morte violenta do irmão e abordagens policiais. Essas histórias são citadas rapidamente por pessoas que são entrevistadas no documentário com a mãe do parlamentar, amigos e assessores.

O ponto principal é mostrar como uma manifestação pacífica feita por negros, dentro de uma igreja construída por pessoas pretas no período colonial, reinvidicando o fim das mortes de pessoas negras, se tornou em um processo que pode cassar pela primeira vez o mandato de um vereador na cidade de Curitiba.

Em fevereiro deste ano, Freitas e outros ativistas entraram no templo católico carregando faixas e bandeiras em protesto contra as mortes do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, espancado até a morte no Rio de Janeiro e de Durval Teófilo, assassinado por um militar da marinha quando chegava em casa. A ação do vereador foi considerada quebra de decoro pela Comissão de Ética da Câmara de Curitiba.  Agora ele tenta não ser o primeiro vereador da história de Curitiba a não ter seu mandato cassado.

Renato se declara cristão e o filme mostra, também de forma indireta quais são suas referências dentro da doutrina. Em pelo menos duas cenas é visto o livro O Deserto é Fértil, do ex-arcebispo de Recife e Olinda Dom Hélder Câmara, que teve papel de destaque na luta pelos direitos humanos em plena ditadura militar brasileira e uma dos maiores expoentes da Teologia da Libertação no país.

Outro ponto forte da obra envolvendo um religioso é quando, em uma nova manifestação feita em frente a igreja do Rosário dos Pretos, o pároco local afirma que Renato não fez nada para que mereça ser cassado pelos outros vereadores de Curitiba. Nas duas aparições que faz no filme, a presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, também defende que Freitas não receba a punição da casa parlamentar.

A votação no plenário da Câmara dos Vereadores de Curitiba que definiria o futuro político do petista foi suspensa após uma determinação judicial. A juíza Patricia de Almeida Gomes Bergonse, da 5ª Vara de Fazenda Pública de Curitiba, acatou o recurso da defesa do vereador alegando que ele vem sofrendo ameaças dentro da própria casa legislativa.

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Na sua decisão, a magistrada também pediu que a Câmara instaure uma sindicância para investigar a origem de uma mensagem que foi enviada do email do vereador Sidnei Toaldo (Patriota). “A Câmara de vereadores de Curitiba não é seu lugar, Renato. Volta para a senzala. Vamos branquear Curitiba e a região Sul, queira você ou não, seu negrinho”, dizia o texto direcionado a Freitas.

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