“Cada semana que faço um show, ofereço a música para uma chacina diferente”, diz o rapper Eduardo, um dos mais respeitados pelos jovens das periferias brasileiras
Por Caio Castor e Igor Carvalho, especial para a Ponte Jornalismo
A madrugada do último domingo (4/10) já avançava quando Eduardo encerrou seu show no Festival “Hip-Hop Revolução” em Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo. Ao lado do palco, uma fila interminável de seguidores do rapper se formou. “Não vou ter condução pra ir embora, já era. Mas preciso dar um abraço nele e falar que parei de beber e estou cuidando da minha família”, dizia o fã, sem se identificar. Um pouco mais atrás na fila, uma mulher grita. “É a nossa voz, é a voz da favela”, disse.
“Já é uma tradição, atendo um por um, não vou embora sem falar com todos que querem falar comigo”, explica Eduardo, que estava satisfeito com o show. “Noite especial, homenagear as ‘Mães de Maio’ é importante, deu tudo certo”, comemorou o rapper, citando o movimento social que surgiu em 2006, quando 493 pessoas foram assassinadas. Segundo organizações dos direitos humanos, o episódio violento foi uma reação de grupos de extermínio com a participação de policiais a ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). Quase a totalidade das vítimas eram jovens negros e da periferia.
Durante a entrevista, o rapper falou sobre o genocídio da população negra e pobre, letalidade policial, o papel da mídia na criminalização da pobreza e lamentou o avanço da direita nos bairros mais pobres, explicitado nas últimas eleições com a vitória dos candidatos à presidência, Aécio Neves (PSDB,) e ao governo paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), nas periferias. “O cara que vai votar, ainda não conseguiu associar o extermínio com o exterminador.”
Assista a entrevista de Eduardo: