Alunos passam mal após gás lacrimogêneo da PM invadir escola em SP

Pelotão de Força Tática realizava treinamento em quartel vizinho à Escola Estadual Professor Paulo Roberto Faggioni, na zona leste da capital, nesta quarta-feira (29)

Portão de entrada dos alunos da Escola Estadual Professor Paulo Roberto Faggioni | Foto: Jeniffer Mendonça/Ponte Jornalismo

Alunos passaram mal após gás lacrimogêneo usado pela Polícia Militar durante um treinamento invadir a Escola Estadual Professor Paulo Roberto Faggioni, na noite desta quarta-feira (29/3). O muro do quartel do 29º BPM/M é vizinho da unidade escolar localizada no bairro Limoeiro, na zona leste da cidade de São Paulo.

Segundo comunicado publicado pela gestão da escola, por volta das 18h15, foram ouvidas explosões de bombas do lado de fora, sendo que o gás invadiu o pavimento superior do local onde ficam o pátio, o refeitório e as quadras, e provocou “efeitos diversos nos estudantes como: ardência nos olhos, irritação na garganta, tosse, falta de ar, arritmia cardíaca, vômitos e dificuldades na respiração”.

Os estudantes foram levados para a área do estacionamento da escola por ser mais “ventilado e seguro”. A equipe de gestão escolar acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a PM porque a comunidade escolar não sabia o que estava acontecendo. A nota afirma que “não houve vítimas graves”, mas dois alunos foram encaminhados à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Tito Lopes, e que um tenente da PM de apresentou informando que “a companhia realizou um treinamento com bombas de gás lacrimogênio (sic)”.

Alguns pais e alunos comentaram na postagem. Uma mulher disse que na Avenida Imperador, onde o batalhão está sediado, “algumas pessoas tiveram os mesmos sintomas”. “A direção da escola tem que se reunir com os responsáveis da unidade militar e dizer para eles que este tipo de treinamento tem que ser feito em área isolada, sendo que ao redor tem a escola, residências e um ponto de ônibus colado ao muro”, reclamou um homem.

A Ponte foi até a escola e a direção confirmou o teor do comunicado, disse que os alunos estão bem e as aulas desta quinta-feira (30/3) aconteceriam normalmente. A unidade faz parte do Programa de Ensino Integral (PEI), sendo que das 14h às 21h as aulas são para salas de Ensino Médio. Os funcionários e representantes docentes não quiseram gravar entrevista, mas afirmaram que essa foi a primeira vez que uma situação como essa aconteceu e que demais informações só seriam passadas pela assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Educação (Seduc).

Localização da Escola Estadual Professor Paulo Roberto Faggioni, com entrada na Rua Tabacarana, e do 29º BPM/M, com entrada na Avenida Imperador | Imagem: Google Maps / Reprodução

A reportagem também se deslocou até o 29º BPM/M e o tenente-coronel Max confirmou que um pelotão da Força Tática estava realizando um treinamento de distúrbio de controle de civis com uso de armas menos letais dentro do quartel. O espaço usado é aberto e, no momento em que a Ponte estava no local, era ocupado por carros particulares dos policiais. Um muro mais baixo, que é a entrada do batalhão, é voltado à Avenida Imperador. Já o muro mais alto e com vegetação na parede é colado à escola, na Rua Tabacarna, em que é possível visualizar as grades de uma quadra.

“Talvez algum resquício [do gás] foi para a escola, isso não foi confirmado”, declarou o tenente-coronel. “Pelo o que foi comunicado pelo oficial que foi ao local [escola], eles se assustaram mais com o barulho das granadas. Então, talvez pela comoção do caso que aconteceu nesta semana [ataque à Escola Estadual Thomazia Montoro, na segunda-feira (27)], eles tenham se assustado, mas nada que tenha tido algum tipo de problema, até porque não houve nenhum incidente com os policiais que estavam bem mais perto [do gás] e em treinamento”.

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De acordo com ele, “alguma mudança de vento” pode ter propagado o gás e que não houve nenhuma intenção de causar mal estar na escola, já que essa teria sido a primeira vez que algo do tipo aconteceu pois os treinamentos costumam ser realizados no mesmo espaço. “Nós não temos no 29º Batalhão um local isolado, acho que nenhum quartel dentro do CPM-4 [Comando de Policiamento Metropolitano – Área 4, que abrange o batalhão] é isolado e eles fazem seus treinamentos”, disse. “O que podemos fazer, a partir de agora, é avisar a escola quando esses treinamentos forem acontecer”, garantiu.

O que diz o governo

A Ponte questionou as assessorias da Secretaria Estadual de Educação e da Secretaria de segurança Pública sobre o episódio. A resposta foi enviada de forma conjunta:

As Secretarias da Segurança Pública e da Educação esclarecem que na tarde dessa quarta-feira (29), por volta das 18h30min, parte do gás lacrimogênio oriundo de treinamento ocorrido em um quartel da PM foi percebido por alunos da  “Escola Estadual Professor Paulo Roberto Faggioni”.

Equipes do SAMU e do Corpo de Bombeiros foram acionadas e prestaram o devido apoio no local, atendendo quatro adolescentes, sem que houvesse a necessidade de encaminhamento ao Pronto Socorro.

As Secretarias lamentam o ocorrido e estão em contato a fim de impedir que novos episódios se repitam.

Reportagem atualizada às 12h41, de 31/3/2023, para incluir posicionamento do governo estadual.

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