Ismael Moray Flores, de 19 anos, foi morto por policiais na semana passada em Foz do Iguaçu
Além de viver o luto pela perda do genro, a moradora de Foz do Iguaçu Andreia Mendes agora tem de lidar com o medo. Desde que o jovem Ismael Moray Flores, de 19 anos, foi morto no último dia 28 – porque a Polícia Militar o confundiu com um assaltante –, viaturas da PM ficam rondando sua residência.
No velório do jovem, no dia 29, a ameaça foi explícita. “Dois homens num carro prata passaram em frente ao velório onde eu estava recebendo as pessoas”, conta. Um deles insinuou que poderia matar mais gente. “Todo mundo ficou paralisado, sem reação. Ninguém teve a ideia de pegar a placa do carro.”
Andreia procurou a Polícia Civil para relatar as ameaças. “Me orientaram a tirar foto, a filmar.” Ela queria mesmo uma medida protetiva contra os policiais que participaram da morte do jovem. A PM de Foz do Iguaçu diz que afastou sete deles.
“Prometi no caixão para ele que não ia deixar assim, que ia buscar justiça”, afirma Andreia. “Ele era como um filho, um menino de ouro”, declarou ela por telefone à Rede Lume, chorando.
Ismael tinha emprego fixo e nenhum tipo de envolvimento com o crime. A sogra diz que testemunhas o viram ser executado e que ele implorou pela vida.
O filho dela, companheiro de Ismael, está bem abalado. “Já tive de esconder todo medicamento dentro de casa. A irmã disse que ele estava pensando em tirar a vida.”
Mensagens em redes sociais e em programas policias de TV aumentam a angústia da família. “Ficam parabenizando os policiais por terem matado um bandido. Falam de cancelamento de CPF.”
Andreia passou a desconfiar da Polícia. “Quando matam alguém falam em confronto. Passei a ver agora que nem sempre é assim.”
Na hora em que Ismael foi morto, a 150 metros de casa, Andreia ouviu os tiros. O jovem tinha ido visitar a mãe.
“Saí desesperada de casa porque sabia que ele estava para chegar. Fiquei preocupada com bala perdida, mas não passou pela minha cabeça que ele estava sendo executado.”
Clair Alves Fernandes Moray, mãe de Ismael, havia contado por telefone para Andreia que o filho havia saído da casa dela minutos antes de ser morto.
Filmagem
Imagens de câmera de segurança enviadas pela sogra à Rede Lume mostram Ismael caminhando sozinho e virando uma esquina. Logo, aparece uma moto sendo perseguida por uma viatura da PM fazendo o caminho inverso de Ismael, que não aparece mais nas imagens.
A motocicleta para e, em seguida, o condutor se rende. O outro suspeito foge, correndo, na mesma direção tomada por Ismael, segundos antes. No vídeo ainda é possível ver outras viaturas da PM chegando ao local e policias correndo em direção ao jovem que fugiu.
Conforme o Instituto Médico-Legal (IML), Ismael foi morto por cinco disparos de arma de fogo. Um atingiu a cervical e saiu no rosto dele, outros quatro foram no tórax, atingindo um dos ombros e axilas.
O suspeito do assalto, de 25 anos, também foi morto e o outro que estava na motocicleta, preso.
Do boletim de ocorrência aberto na Polícia Civil consta que “alguns indivíduos” foram vistos fugindo do local e que “apontaram armas de fogo em direção aos policiais sendo revidada a injusta agressão por parte dos policiais”.
Sesp diz que vai buscar informações
Os assessores da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) ficaram de buscar informações mais detalhadas sobre o caso e também sobre as ameaças que Andreia Mendes afirma estar sofrendo.
Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado para apurar o ocorrido, como é praxe nesses casos. “Os policiais envolvidos no caso foram afastados pela Polícia Militar”, disse e assessoria de imprensa da Sesp, ao ser questionada pela Rede Lume.
Recorde de mortes
De 2017 a 2022, as forças de segurança mataram 2.196 pessoas no Paraná, sendo 226 em Londrina. A letalidade policial foi tema de debate realizado pela Rede Lume e pela Rádio UEL FM dia 15 de março.
No próximo sábado, dia 6, as famílias dos jovens Willian Junior e Anderbal Junior, mortos pela PM em Londrina, farão um ato para lembrar um ano do caso. Será no local das mortes, na entrada da Universidade Estadual de Londrina (UEL), (CCH, Ceca, CEF), às margens da PR 445.
Organizados no movimento Justiça por Almas, familiares de mortos pela Polícia de Londrina reivindicam, entre outras medidas, que os policiais utilizem câmeras de segurança em seus uniformes.
O governo do Estado diz que vai abrir licitação para comprar 300 desses equipamentos para teste.