O soldado Walter Pereira da Silva Junior é um dos acusados de participar da matança ocorrida na quadra da Pavilhão Nove. O pedido de soltura foi feito pelo promotor Rogério Zagallo, que já foi punido por incitar violência policial
O soldado da PM Walter Pereira da Silva Junior foi colocado em liberdade hoje, (07/12) por decisão da Justiça de São Paulo. Preso desde maio deste ano, Walter é um dos acusados de participar da chacina ocorrida na quadra da torcida organizada corinthiana Pavilhão Nove, em 18 de abril deste ano, onde oito pessoas foram assassinadas após um churrasco.
O pedido para que o PM responda ao processo em liberdade foi feito por seu advogado de defesa e reiterado pelo promotor de justiça Rogério Leão Zagallo, durante audiência de instrução ocorrida na última sexta-feira (04/12). O soldado Silva, do 33º Batalhão da Polícia Militar (BPM), também é acusado de envolvimento numa chacina ocorrida em Carapicuíba (SP), no ano passado. O processo corre em segredo de Justiça.
A sentença de soltura foi dada pela juíza Eliana Cassales Tosi de Mello, que, em abril deste ano, arquivou o processo contra o policial militar que atirou contra a cabeça de um camelô que estava desarmado, em setembro de 2014. Zagallo, que já foi punido por incitar violência policial, também atuou no caso da morte do camelô.
Testemunhas não ouvidas
A defensora pública Daniela Skromov de Albuquerque, que atua como assistente de acusação do caso, vê a decisão com preocupação. “Há dois aspectos complicados”, pontua. “Primeiro, há duas testemunhas de acusação que ainda não foram ouvidas e que poderiam trazer novas informações e maiores esclarecimentos ao caso”. O segundo aspecto, lembra, “é que houve uma ação no curso do processo: na primeira audiência de instrução do caso, a sala onde as testemunhas de defesa dos acusados apareceu pichada com os dizeres ‘Pavilhão 9, bandidos, vagabundos’”. A foto com a sala pichada passou a integrar o processo da chacina.
Familiares das vítimas também afirmam estar perplexos com a decisão da Justiça. Eles receiam sofrer algum tipo de retaliação. “Semana passada o Poder Judiciário negou a liberdade do PM alegando que o mesmo traz perigo à sociedade e é solto?” questiona um dos familiares de vítima da chacina, que preferiu não se identificar.
Habeas corpus indeferido
No final de novembro, a Justiça de São Paulo indeferiu o pedido de habeas corpus impetrado pela defesa do policial sob alegação de que o acusado oferece risco à sociedade caso seja solto. “A gravidade concreta do delito, consubstanciada no modus operandi, evidencia exacerbada periculosidade e reprovabilidade social do paciente, assim suficientes para caracterização da necessária garantia da ordem pública”.
Além de Walter, o ex- ex-policial militar Rodney Dias dos Santos, um dos sócios-fundadores da uniformizada do Corinthians, também é acusado de participar da chacina. Rodney está preso. Um terceiro policial teria participado dos crimes e está sendo investigado pela Polícia Civil: é o segundo sargento da PM Marcelo Mendes da Silva, do 14º Batalhão da corporação, em Osasco.Ele é investigado, ainda, sob a suspeita de participar da série de atentados ocorrida em 13/08 em bairros da periferia de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, que deixou 19 mortos.
De acordo com a Polícia Civil, os autores da chacina teriam envolvimento com tráfico de drogas e foram até a sede da Pavilhão para um “acerto de contas” com Fábio Domingos, um dos mortos.
Oito torcedores foram assassinados na chacina: Ricardo Junior Leonel do Prado, 34 anos; Andre Luiz Santos de Oliveira, 29 anos; Matheus Fonseca de Oliveira, 19 anos; Fabio Neves Domingos, 34 anos; Jhonatan Fernando Garzillo, 21 anos; Marco Antônio Corassa Junior, 19 anos; Mydras Schmidt, 38 anos; e Jonathan Rodrigues do Nascimento, 21 anos.
Na audiência de instrução do dia 4, apenas uma das três testemunhas previstas para serem ouvidas compareceu. Mesmo antes de ouvir as duas testemunhas que não compareceram, o promotor pediu a soltura de Walter, alegando “falta de provas”. Dois dias depois da audiência, torcedores da Pavilhão 9 protestaram na entrada da Arena Corinthians pedindo justiça. Faixas com os nomes dos torcedores mortos foram estendidas num dos muros do terreno. Numa delas, os dizeres: “Indenização as famílias. Eles não eram bandidos. Bandido é quem matou”. Durante o jogo, também protestaram contra a atuação de Zagallo como promotor do caso.