Marcelo Gordo foi condenado a 31 anos de prisão por associação ao tráfico, porte de arma e de munição. Desembargador Luiz Morenghi justificou que, apesar das apreensões terem sido feitas na casa do acusado, não houve flagrante
Marcelo José Martins, 44 anos, era apontado como um dos caixas da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Considerado pelas autoridades um traficante importante, que agia na zona leste de São Paulo, sobretudo na região da Penha, Martins foi morto com cinco tiros em um posto de gasolina na rodovia Fernão Dias (vídeo), região do Tremembé, zona norte da cidade, em 21 de setembro deste ano. Ele estava com R$ 560 mil da facção quando foi assassinado.
Um dos principais nomes da facção criminosa que age dentro e fora dos presídios, Martins era conhecido como Marcelo Gordo e foi preso em 2009 com 260 quilos de cocaína, toneladas de insumo, armas de diversos calibres e grande quantidade de dinheiro. Com tudo isso, ele foi condenado pela Justiça a 31 anos de prisão, mas ficou na cadeia menos de um ano. Graças ao desembargador João Luiz Morenghi.
Em sua decisão, Morenghi afirmou que a prova colhida foi insuficiente para demonstrar a participação de Marcelo Gordo em associação ao tráfico de drogas. Ele argumentou que tudo foi apreendido em imóveis do traficante, não tendo o flagrante. Sendo assim, decidiu absolvê-lo de tudo o que havia sido acusado: tráfico de drogas, porte de arma e de munição e associação ao tráfico.
Esta não é a primeira vez que um desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo libera um integrante do PCC. Neste ano, o desembargador Otávio Henrique de Souza Lima foi afastado de suas funções depois de ter liberado quatro megatraficantes da facção.
Porém, a Justiça paulista não age da mesma maneira com todas as pessoas. Um dos exemplos, que ganhou repercussão no meio judiciário, é o caso de M., que foi presa em 2012 com apenas 1 grama de maconha e ficou três anos na cadeia. Ela foi condenada a 6 anos de reclusão por tráfico de drogas, além do pagamento de 680 dias-multa. Só em abril deste ano M. foi solta, após decisão do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Procurado, o Tribunal de Justiça de São Paulo informou à reportagem que os desembargadores são impedidos de falar à imprensa sobre suas determinações. Por e-mail, João Luiz Morenghi escreveu que não tinha nada a declarar.
O assassino de Marcelo Gordo ainda não foi identificado. De acordo com informações que vazaram de integrantes da facção no Estado, os R$ 560 mil que estavam no carro eram do caixa do PCC. A facção desconfiava que ele tentava fugir com o dinheiro. Por isso, teria mandado matá-lo.
A polícia agora trabalha com duas hipóteses para tentar explicar por que o dinheiro não foi levado. A primeira é que os criminosos deixaram o montante de propósito para que o caso parecesse um latrocínio – roubo seguido de morte. A segunda, que os integrantes da facção não sabiam que o dinheiro estava no carro no momento da morte.
Uma outra dúvida que a polícia tenta esclarecer é como os integrantes da facção criminosa sabiam que o homem iria parar justamente naquele posto de combustível. Uma hipótese é que aquele local é um ponto estratégico da facção na zona norte.
A SSP (Secretaria da Segurança Pública) divulgou uma nota afirmando que as imagens das câmeras de segurança estão sendo analisadas e que testemunhas ainda vão ser ouvidas. Também disse que o dinheiro encontrado no carro já foi depositado em juízo.