Thiago Vieira da Silva, 22, foi assassinado enquanto voltava de uma casa noturna no Jardim São Luís, zona sul de SP. Hoje completa um ano que ele foi morto pelo policiais militares Gilberto Dartora e Rodrigo Gimenes Coelho
Momento em que Thiago foi morto foi flagrado por câmera de celular
O vendedor de loja de sapatos Thiago Vieira da Silva tinha 22 anos quando foi morto com 10 tiros em 9 de dezembro de 2014 no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo. Depois de gritar pedindo socorro três vezes, foi baleado pelos policiais militares Gilberto Dartora (3º sargento) e Rodrigo Gimenez Coelho (soldado) mesmo desarmado, sem drogas e já rendido, segundo testemunhas. Mas, para o governo, os PMs agiram em legítima defesa. Por isso, continuam trabalhando, na rua, na mesma área do crime ocorrido há um ano.
De acordo com o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, e segundo a Corregedoria da Polícia Militar, os policiais apenas se protegeram. A SSP (Secretaria da Segurança Pública), que tem à frente Alexandre de Moraes, nesta quarta gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB), divulgou uma nota afirmando que “não foi verificado excesso nas condutas deles [PMs] e, por isso, eles não foram indiciados”.
A opinião dos órgãos acima não é a mesma do ouvidor da Polícia de São Paulo, Júlio Cesar Neves. À época dos fatos, o advogado, que está à frente no órgão responsável por fiscalizar as polícias do Estado, condenou veementemente a ação do soldado e do 3º sargento.
“O policial militar não está aí para matar alguém, para executar uma sentença de morte. O policial militar está aí para prender e para levar esse cidadão para um distrito policial”, afirmou. “Eles não respeitaram o método Giraldi, que lhes é ensinado”, complementou.
O método Giraldi, repassado a todos os policiais, determina que durante uma abordagem a contenção do suspeito, caso seja necessária, deve ser feita com apenas dois disparos quando o PM está manuseando revólver, pistola ou metralhadora portátil. “Na vida real, quando não forem suficientes para fazer cessar a ação de morte do agressor contra a sua vítima, serão repetidos”, aponta um item do método.
A mãe de Thiago, diarista, que veio do Ceará à procura de uma vida melhor, se desespera ao saber que os homens que tiraram a vida de seu filho estão impunes.
“Não existe Justiça no Brasil. Meu filho era maravilhoso. Ele estava voltando de uma balada com um amigo e fizeram isso com o meu menino. Estou há um ano sem viver. Acabaram com a minha vida, moço. Como é que atiram tanto contra uma pessoa desarmada e ficam impunes? Não dá pra entender. Vou morrer sem entender”
Há um ano, a Polícia Militar justificou o assassinato de Thiago afirmando que houve tiroteio. O que nunca foi confirmado por moradores locais que viram a cena à época dos fatos e agora. Um dia depois do suposto tiroteio, a nossa equipe de reportagem foi até o local verificar o que havia acontecido. De um lado da rua, havia diversos fragmentos de bala e perfurações na parede e em carros estacionados. O outro lado estava intacto, o que leva a crer que não houve troca de tiros.
A SSP havia afirmado que por volta das 23h50 daquele dia, os PMs prenderam em flagrante um homem de 20 anos com uma bolsa carregada de drogas. A pasta afirmou que o rapaz detido se entregou, e Thiago, tentou fugir. “Em dado momento, Thiago se abrigou entre dois carros que estavam estacionados e voltou a atirar contra um dos PMs, que revidou. Outro policial veio em apoio, se aproximou pelo lado direito e também atirou, acertando o suspeito que morreu no local”. “Como é que ele gritaria socorro três vezes antes de morrer se estivesse fugindo?“, questionou um morador local.
Também de acordo com a versão do governo, ao lado do corpo foi encontrado um revólver calibre 38. A polícia diz que o rapaz que foi preso estava com uma mochila que tinha 80 papelotes de maconha, 219 pinos de cocaína, 58 frascos de lança perfume, 34 pedras de crack, além de R$ 14,80 e um telefone celular. Outro morador da região, que também viu a cena, desmentiu novamente a versão apresentada pelos policiais. “Eu e os outros vizinhos que viram, estávamos conversando sobre o caso. Ninguém se lembra de sequer ter visto a mochila”, afirmou.
Um garoto contou que, depois da morte de Thiago, os policiais voltaram ao local para revistar os celulares dos moradores. “Ele chegou, apontou a arma e falou pra mim virar pra parede, e pediu o celular. Queria ver se tinha vídeo”, afirmou. Um amigo de Thiago afirma ter sido o último a falar com ele. “Poderia ter sido eu e um outro amigo nosso. A gente estava na rua, bebendo. Ele ainda ajudou um nosso amigo que estava bêbado a voltar pra casa. Só de pensar que as últimas palavras dele foram com a gente, dá um aperto enorme”.