PM de SC prende três jornalistas durante reintegração de posse

    Uma semana antes, policiais do estado apreenderam celular de jornalista e apagaram imagens de violência policial

    Por Redação do Coletivo Maruim, de Florianópolis (SC)

    As jornalistas do Coletivo Maruim, Natália Pilati e Joana Zanotto, e o repórter fotográfico Marco Fávero, do Diário Catarinense, foram presos por volta do meio-dia deste sábado (19), durante a cobertura de uma reintegração de posse em terreno situado no norte da ilha de Florianópolis (SC).

    A Polícia Militar do Estado de Santa de Catarina (PM-SC) realizava a reintegração de um terreno ocupado por ativistas durante a manhã. Com balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogênio, a PM retirou e deteve todos os ocupantes da área, cerca de 40 pessoas, que foram levadas à 5ª Delegacia de Polícia e liberadas quatro horas depois, após a assinatura de termo circunstanciado.

    Apesar de insistirem que eram jornalistas e não faziam parte da organização do movimento, mas parte da mídia alternativa, o argumento de Joana e Natália foi completamente ignorado e elas foram tratadas como invasoras durante todo o processo.

    Foto: Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina
    Foto: Coletivo Maruim

    A assessoria de imprensa da PM-SC justificou a ação dizendo que “havia uma área delimitada para os jornalistas e que esse limite não foi respeitado”. Em relação às repórteres do Maruim, ele confirmou que elas foram identificadas como participantes do movimento e que não seria possível “identificar a profissão de todos os que estavam ali”. Por telefone, o representante da corporação ainda disse que “a PM não tem interesse em impedir o trabalho da imprensa”.

    Impedimento do trabalho

    A reintegração foi feita enquanto manifestantes negociavam sua rendição com a polícia. Durante boa parte do processo, os jornalistas que faziam a cobertura foram isolados e afastados, sendo impedidos de realizar seu trabalho.
    “Fui presa mesmo após me identificar como jornalista. Diversos policiais estavam sem identificação e, durante a revista pessoal, algumas pessoas passaram por situações vexatórias. Havia um clima de intimidação por parte dos policiais contra quem trabalhava na cobertura e com os manifestantes, com várias ameaças verbais”, relatou Joana Zanotto.

    “A Tropa de Choque estava invadindo, permaneci na entrada do terreno para continuar cobrindo a ação e logo fui detida. Havia sido atingida por estilhaços [de uma bomba de efeito moral] pouco antes” conta Natalia Pilati, também do Coletivo Maruim. A jornalista é autora do vídeo que acompanha esta postagem, registrando o momento em que foi detida até ter sua câmera confiscada pela polícia.

    Participaram da operação policiais do 21º Batalhão de Polícia Militar e do Grupamento de Polícia de Choque (GPChoque) com apoio da Companhia do Policiamento com Cães (CiaPolCaes), da Polícia Militar Rodoviária (BPMRV) e do Batalhão de Aviação da Polícia Militar (BAPM).

    Imagens apagadas

    Os casos deste sábado se somam à apreensão do celular da jornalista Ângela Bastos, também do Diário Catarinense, após filmar um caso de agressão policial nas proximidades de um terminal de ônibus, no centro da cidade. Segundo o site ClicRBS, a repórter retornava do plantão no jornal no domingo (12), às 23h, quando testemunhou policiais militares prendendo um rapaz.

    Três viaturas e membros da cavalaria da Polícia Militar (PM) cercaram o homem, e a repórter teria flagrado dois policiais pisando na cabeça do homem rendido e um terceiro desferindo tapas no rosto dele. Ao perceber as agressões, a jornalista começou a fotografar o fato, e um PM arrancou o celular de sua mão.

    Segundo a jornalista, o PM disse que o aparelho iria para a perícia, mas ela conseguiu recuperá-lo Depois de cerca de 40 minutos, a repórter conseguiu recuperar o celular das mãos do policial enquanto ele fazia perguntas a ela. Neste instante, a jornalista percebeu que as fotografias que ela acabara de fazer haviam sido deletadas.

    O Coletivo Maruim repudia totalmente qualquer forma de cercear o trabalho de jornalistas, integrantes do coletivo ou de qualquer veículo de mídia. O direito à informação e cobertura é função social do jornalismo e, portanto, elemento fundamental para uma sociedade mais justa e democrática. Todas as providências cabíveis estão sendo tomadas para denunciar os abusos ocorridos e impedir que cenas como as desse vídeo se repitam.

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