Atiradores matam 6 jovens em baile funk de São Paulo

    Jovens tinham 17 e 19 anos e foram mortos no maior ‘pancadão’ da Cidade Tiradentes, periferia da zona leste paulistana, nos dias 13 e 21 deste mês. Ninguém foi preso pelos crimes

    Caramante
    Na manhã do dia 13 deste mês, dois jovens foram mortos a tiros em um baile funk na rua Cristiano Lobe, Cidade Tira-dentes | Google Maps / Reprodução

    Atiradores encapuzados e que circulam em dois carros (Honda Civic prata e Doblô branca), mataram seis jovens no mais tradicional baile funk da Cidade Tiradentes, periferia da zona leste de São Paulo. Quatro dos seis rapazes tinham 18 anos; um tinha 17; o mais velho, 19.

    Realizado no quadrilátero de prédios populares localizados entre as ruas Cristiano Lobe e Oliveira Roma, o pancadão da Cidade Tiradentes chega a reunir, em média, cerca de mil adolescentes a cada fim de semana.

    O primeiro atentado a tiros aconteceu às 6h20 do dia 13 deste mês. Naquela manhã de domingo, os atiradores chegaram ao baile funk no Honda Civic prata e mataram Ezequiel Guardiano Cardoso Coqueiro, que havia completado 18 anos no último dia 30 de outubro, e Gabriel Lastarria Silva, 17 anos.

    Depois de feridos pelos atiradores do Honda Civic, os dois jovens foram levados para ao pronto-socorro do Hospital Cidade Tiradentes por dois amigos deles que também participavam do baile funk.

    Os amigos dos rapazes baleados usaram, segundo a Polícia Militar, um Hyundai Veloster para leva-los ao pronto-socorro. Localizado no estacionamento do hospital, o carro tinha várias marcas de tiros e sangue.

    Ezequiel foi atingido no banco traseiro do carro, cuja característica é ter três portas (só uma atrás). Ele foi baleado nas costas. Gabriel estava no banco do passageiro e atingido por dois tiros no rosto. Ezequiel morava na Cidade Tiradentes, a 4 km de distância do local onde foi baleado, Gabriel, a 10 km do baile funk, no Jardim Castelo, bairro da periferia de Ferraz de Vasconcelos, cidade da Grande São Paulo.

    Horas depois de Ezequiel e Gabriel terem sido mortos, a polícia localizou o dono do Veloster, um engenheiro eletricista, e ele relatou que o carro havia sido roubado, em Ferraz de Vasconcelos, um dia antes de ser achado no estacionamento do hospital.

    Fotos de Ezequiel, Gabriel e dos dois amigos que os socorreram foram apresentadas ao engenheiro eletricista e ele não reconheceu nenhum dos quatro jovens como responsáveis pelo roubo de seu carro.

    Chacina

    Caramante
    Oito dias após dois jovens serem mortos, atiradores voltaram ao baile funk da Cidade Tiradentes e mataram mais quatro rapazes. Segundo ataque foi na rua Oliveira Roma | Google Maps / Reprodução

    Apenas oito dias após as mortes de Ezequiel e Gabriel, às 2h50 da última segunda-feira (21/12), os atiradores do Honda Civic e da Doblô voltaram a apavorar o baile funk da Cidade Tiradentes e mataram mais quatro jovens.

    Ítalo Caio Alves Siqueira e Paulo Amaral de Andrade, os dois com 18 anos e moradores da Cidade Tiradentes, foram os primeiros alvos dos atiradores encapuzados. Ítalo morava a 800 metros da rua Oliveira Roma; Paulo, a 1,1 km do baile funk onde foi baleado.

    Assim que balearam Ítalo e Paulo, os assassinos partiram na direção de Wesley Gonçalves Silva, 19 anos, e de Josenildo Márcio Santos, 18. Os dois amigos eram frequentadores do baile funk e conhecidos na Cidade Tiradentes.

    Duas cápsulas de pistola .40, de uso restrito das forças de segurança, foram localizadas pela perícia onde os quatro jovens foram baleados.  Todos foram baleados principalmente na cabeça.

    Na manhã de segunda-feira (21/12), um carro (Ecosport) e uma motocicleta que constavam como roubados nos banco de dados da polícia paulista foram localizados queimados perto do baile funk onde os quatro rapazes foram assassinados.

    Parentes e amigos de Wesley e de Josenildo disseram à reportagem, com a condição de que suas identidades fossem preservadas, acreditar que os quatro jovens, assim como as outras duas vítimas do dia 13, foram mortos por um grupo de extermínio que tem entre seus membros policiais militares que patrulham a região da Cidade Tiradentes.

    “Sempre os PMs passavam por aqui e dizia que ia nos matar. Quando não eram os da Rocam [Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas] eram os da Força Tática. Cansei de ser enquadrado ao lado do Wesley e ouvir dos PMs que eles iam nos matar”, disse um familiar do jovem morto na chacina de segunda-feira (21/12).

    Quem matou os rapazes é da Polícia Militar. Instantes antes dos caras chegarem atirando, vimos um carro da Força Tática passando pertinho do baile [funk]”, finalizou o parente de umas vítimas.

    Secretário de Alckmin e PM não se manifestam

    Procurados nesta quarta-feira (23/12) pela reportagem para se manifestar sobre as seis mortes no baile funk da Cidade Tiradentes, o secretário da Segurança Pública da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), Alexandre de Moraes, e o comandante-geral da PM, coronel Ricardo Gambaroni, não falaram.

    Por meio de nota oficial, a assessoria de imprensa da Segurança Pública informou: “O delegado Anderson Honorato, do 54º DP [Cidade Tiradentes], informa que foi instaurado inquérito para investigar a morte dos jovens. O caso será encaminhado hoje ao DHPP [Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa] para continuidade nas investigações”

     

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