Aposentado afirma que policial invadiu apartamento, chutou sua cabeça, deu coronhadas e o xingou de “arrombado” e “filho da puta” depois de questioná-lo por que não havia dado “bom dia” ao entrar em ocupação de condomínio
Uma discussão por causa de um “bom dia” teria levado o aposentado Anderson Sales, 33, a ser agredido por policiais militares dentro do apartamento onde mora, no último sábado (21/10), no bairro Jardim Amália, região do Capão Redondo, na zona sul da cidade de São Paulo.
Segundo ele, o prédio é ocupado há cerca de dois anos por 48 famílias. Naquele dia, por volta das 8h da manhã, estava retornando de uma adega para casa quando passou por dois PMs que estavam conversando com moradores dentro do condomínio. “Eu cheguei, dei ‘bom dia’. E ele [um dos PMs disse] ‘ué, você dá ‘bom dia’ para todo mundo e não dá para nós por quê?’. Eu falei ‘eu dei ‘bom dia’ a todos’. Ai ele falou ‘amigão, você tem passagem?’. Eu disse ‘já tive problema na justiça em 2010. De lá para cá, eu não devo nada'”, conta.
Em seguida, Anderson afirma que o policial o xingou. “Ele disse ‘então, seu filho da puta, vai para sua casa, seu arrombado’. Eu entrei para dentro de casa, fechei a porta. Eu sentei no sofá e não deu nem 30 segundos, [ouvi] um ‘boom’. Ele arrombou a porta”, denuncia.
Ele afirma que, com medo, pulou para próximo da sacada para pedir ajuda, já que não tem uma das pernas e não teria como correr. “Pulei para a sacada, ele chegou chutando a minha cara, que fez um rasgo enorme, que eu tive que tomar ponto, e bateu com a arma na minha cara [e disse] ‘vai, fala alguma coisa agora, seu filho da puta'”, afirma. “Eu comecei a pedir socorro, os moradores começaram a sair na sacada e a filmar. Os policiais se evadiram do local”.
Anderson conta que foi socorrido pela esposa e que os moradores ligaram para a Ouvidoria das Polícias. “Eles mandaram outros policiais que me levaram para o IML para fazer [exame de] corpo de delito no Hospital das Clínicas”, disse. Um vídeo gravado por moradores de um prédio vizinho mostra uma viatura e outros dois policiais militares deixando o local. Quem grava diz indignado: “olha lá, bateram no Gibinha”, que é o apelido de Anderson, que, por sua vez, também grita “vocês são covardes! por que você fez isso?”. Um dos PMs parece dizer “eu nem subi aí” na gravação. Anderson disse à reportagem que o PM falou isso, mas, de acordo com ele, outros moradores também viram a agressão. E que o policial ainda pegou seu celular quando tentou filmar o momento em que foi agredido.
O aposentado afirma que policiais têm aparecido no prédio, que seria de propriedade particular, desde que teria sido agendada uma reintegração de posse prevista para esta quarta-feira (25). “Eles falam que se a gente não sair, vão agredir e quebrar tudo”, denuncia. Desde que denunciou o caso, Anderson afirma que os policiais que o agrediram não apareceram mais no condomínio, mas outros PMs ainda aparecem no local a respeito da reintegração de posse.
Anderson conta que mora na ocupação há quase um ano. “O que eu ganho por ser deficiente não é suficiente para pagar aluguel, então estou aqui por necessidade”, afirma.
Ainda no sábado, ele prestou depoimento no quartel do Comando de Policiamento de Área Metropolitana Dez (CPA/M-10) para denunciar as agressões, onde o tenente Paulo José Bonifácio Fonseca Novais pediu o exame de corpo de delito. À Ponte, o ouvidor Claudio Silva confirmou a intermediação e que está acompanhando o caso. “Ao tomar conhecimento sobre o ocorrido, fizemos imediatamente contato com o Comandante da Área que ofereceu uma viatura para fazer o socorro da vítima ao PS, levou-o ao CPA/M-10 para ser ouvido e também o encaminhou ao IML”, declarou.
O que diz a polícia
A Ponte procurou a Secretaria de Segurança Pública sobre a denúncia e se houve prisão de policiais já que o termo de declaração de Anderson, que a reportagem acessou, é identificado como auto de prisão em flagrante. Em nota, a SSP-SP confirmou a prisão dos policiais e informou que eles foram transferidos para o Presídio Militar Romão Gomes.
Veja nota na íntegra abaixo:
A Polícia Militar esclarece que em relação aos fatos envolvendo membros do 37° Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M), os policiais denunciados foram prontamente identificados e encaminhados, no mesmo dia, ao Plantão de Polícia Judiciária Militar e Disciplina. Posteriormente, foram transferidos para o Presídio Militar Romão Gomes (PMRG) e responderão por suas condutas perante à Justiça.
*Matéria atualizada às 15h do dia 25 de outubro de 2023 para incluir a nota da SSP-SP.