Ato exige cessar-fogo e liberdade à Palestina

Em ato de solidariedade ao povo palestino ocorrido neste domingo, manifestantes cobraram posição firme do governo brasileiro contra Israel

Manifestante denuncia crimes de Israel durante manifestação de apoio ao povo palestino | Foto: Beatriz Drague Ramos/ Ponte Jornalismo

Dezenas de manifestantes se concentraram neste domingo (12/11) na Praça Oswaldo Cruz, na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, para um ato de apoio ao povo palestino. A manifestação reuniu diversas pessoas da comunidade árabe e apoiadores da causa palestina, quando os ataques de Israel sobre a faixa de Gaza completaram 37 dias. Ao todo Israel matou cerca de 11.000 palestinos, dos quais mais de um terço são crianças, segundo as autoridades da faixa de Gaza. Os ataques também mataram cerca de 100 funcionários da agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados palestinos, a UNRWA.

Durante a caminhada, que foi até o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), mulheres da comunidade árabe e de movimentos sociais fizeram uma performance simulando bebês mortos em seus braços e denunciando o assassinato de mais de quatro mil crianças em Gaza. Empunharam faixas e cartazes com as frases “Cessar fogo, cessar ocupação, cessar bloqueio, Palestina Livre!” e “Estado de Israel, pare de matar”.

Manifestante pede o fim dos massacres na Faixa de Gaza durante protesto em São Paulo. | Foto: Beatriz Drague Ramos/Ponte Jornalismo.

Juliana, integrante do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) e da Frente Palestina, lembra que esta já é a quinta manifestação na capital paulista que pede o fim da ocupação israelense na Palestina desde o dia 7 de outubro, quando Israel iniciou os ataques após uma ação do grupo palestino Hamas que deixou 1.200 mortos em Israel.

Além do cessar fogo, os movimentos sociais pressionaram o governo brasileiro a colocar um fim nos acordos econômicos e nas relações diplomáticas com Israel. “Não tem mais como a gente tolerar isso, não dá mais para as pessoas continuarem morrendo seja porque elas estão morrendo bombardeadas, de fome, de sede, ou porque não tem mais energia para manter os hospitais funcionando”, disse.

Segundo Juliana, os processos violentos e contínuos dentro dos territórios palestinos perpassam décadas: “Crianças são presas e assassinadas todos os anos, estamos vivendo uma crise nesse momento, mas isso não é de hoje, então por hora a gente está gritando por um cessar fogo, pela entrada de ajuda humanitária, pelo fim dos bombardeios. Não vamos parar a solidariedade aqui, a gente só vai parar quando a Palestina for livre.”

Nesse sentido, Juliana pontua que a solidariedade tem um papel ativo para exercer pressão sobre a comunidade internacional para denunciar os crimes de Israel assistidos por todo o mundo de forma cúmplice. “Então a gente tem um papel fundamental de pressionar os nossos governos e as nossas instituições a não serem também cúmplices do Estado de Israel.”

Presente na manifestação, Daniel (nome fictício), que é engenheiro de software e viveu por anos na cidade de Nablus, na Cisjordânia, onde ainda tem familiares, disse que a realidade do local é de completa violação de direitos. “Vivemos numa realidade que nada lá é nosso, a gente vive sob o risco de tudo ser tomado da gente. Não temos nenhum tipo de direitos.” 

Mulher denuncia as ações do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu na Palestina. | Foto: Beatriz Drague Ramos/ Ponte Jornalismo.

Hoje com 24 anos, ele se recordou de uma memória da infância, quando viveu na Palestina. “Era bem de noite e chegou um carro forte israelense e parou na frente do nosso prédio, todo mundo desligou a luz e ficou quieto, todo mundo abaixou porque não se sabia o que ia acontecer. Nada aconteceu. No dia seguinte eles voltaram, repetimos o mesmo processo, só que dessa vez eles entraram na casa de um amigo meu, pegaram o pai dele, levaram para prisão sem nenhum tipo de direitos. Sem nenhuma contestação, essa é a nossa realidade lá.”

Daniel conta que o povo é constantemente morto de forma silenciosa. “Quando você coloca o povo nessa situação extrema, esse povo reage e foi o que aconteceu. Tudo o que a gente exige é que a gente tenha o nosso próprio Estado, a nossa própria terra, nossos direitos”. 

Ele afirma que a família está em alerta diante do massacre israelense, ainda que o local não sofra com tantos ataques. “A gente não sabe se vai ter segurança, porque eles podem entrar lá, atacar e falar que estão se defendendo de um ato terrorista nosso. Meu pai estava na Palestina, ele foi impedido de sair porque simplesmente eles decidiram fechar e ficou por isso mesmo. A gente não tem o direito de ir e vir.”

Manifestantes marcham até o Masp em apoio à Palestina. | Foto: Beatriz Drague Ramos/ Ponte Jornalismo.

Na visão do jovem, todo país de primeiro mundo é conivente com a situação atual. “Eles alimentam o Estado de Israel, apoiam e normalizam o que é feito lá. No momento dizem apenas palavras ao vento, sem nenhuma ação, como o que o Macron fez na França e os Estados Unidos negou um corredor humanitário.”

A estudante Batuol Kaebi, que é descendente de iraquianos, segurava uma placa em que expunha uma foto do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, junto ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. No papelão a frase “tem sangue em suas mãos” ilustrava o apoio estadunidense à guerra. “Eles estão matando milhares de crianças, mulheres e idosos. Os Estados Unidos está fornecendo tudo para Israel, todo o sangue está indo para as mãos dele”, disse a jovem de 15 anos.

“Os Estados Unidos está fornecendo tudo para Israel, todo o sangue está indo para as mãos dele”, diz a estudante Batuol Kaebi. | Foto: Beatriz Drague Ramos/Ponte Jornalismo.

Nascido também no Iraque, o estudante Mohamed Alkaabi relata que Israel vem cometendo crime de genocídio contra o povo palestino e clama por apoio popular à causa. “Eles são humanos, nós somos humanos, somos iguais nisso. É importante fazermos esses protestos semanais para mostrar ao mundo e ao brasileiro que não conhece muito da realidade de lá o que realmente está acontecendo, porque a mídia só repete o que a mídia internacional mostra, que é bastante enviesado pro lado de Israel”, diz. “Não falam que estão matando palestinos, mas falam que palestinos estão morrendo.”

Ao final da manifestação, homens da comunidade muçulmana rezaram em solidariedade ao povo palestino.
Ao final da manifestação, homens da comunidade muçulmana rezaram em solidariedade ao povo palestino. | Foto: Beatriz Drague Ramos/Ponte Jornalismo.

O ato começou na praça às 11h e caminhou pela Avenida Paulista até às 14h onde foi concluído na região do Masp, com a oração de um grupo de homens muçulmanos e gritos de “Palestina livre” e “Estado de Israel, Estado assassino e viva a luta do povo palestino”.

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