Casos de policiais que matam e se matam são mais comuns entre PMs da ativa, das regiões Norte e Nordeste, e são influenciados pelo machismo, segundo pesquisa apresentada pelo Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES)
De 2018 a 2023, 67 policiais no Brasil cometeram homicídio e em seguida se mataram. Na maioria dos casos, as vítimas eram mulheres com quem os policiais tinham relação afetiva. Os dados foram revelados em um levantamento preliminar inédito apresentado pelo Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES), durante o 18º Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, nesta quinta-feira (15/8), em Recife (PE).
A socióloga Dayse Miranda, presidenta do IPPES, destacou o predomínio de feminicídios entre os homicídios seguidos de homicídio praticados pelos policiais. “É um fenômeno que as literaturas americanas colocam como fenômeno de gênero. É onde tem assédio sexual, sempre ligado a conflitos entre homens e mulheres e à violência contra a mulher”, explica.
Dos 67 crimes, 62 foram praticados por servidores da ativa e 5, por inativos. A Polícia Militar foi responsável por 74,6%, seguida pela Polícia Civil, com 17,9%.
Na apresentação, a pesquisadora destacou que, nos últimos seis anos, foi registrado um total de 970 suicídios de agentes de segurança pública, sendo 750 na ativa. A íntegra do levantamento deve ser apresentado em 26 de setembro, no Rio de Janeiro.
Os registros de policiais que matam e depois se matam são mais comuns nas regiões Norte e Nordeste. “Quanto mais tradicional, quanto mais preconceituoso e onde o machismo é estruturante, você tem mais esse tipo de violência”, aponta a pesquisadora.
Dayse destaca que, se o suicídio ainda é um tabu nas polícias e há dificuldade de contabilizá-lo, os homicídios seguidos de suicídio são um fenômeno ainda mais difícil de quantificar e avaliar. “São duas mortes definidas por um conceito, uma categoria de morte violenta adicional que a gente precisa investir em estudos para saber as causas, além da violência doméstica e sexual”, afirma.
A dificuldade de produção de informações sobre suicídios e a ausência discussões aprofundadas sobre as carreiras policiais os efeitos das ocorrências de alto risco ou com mortes nos profissionais foram outros problemas apontados durante a conferência sobre saúde mental e segurança pública apresentada no evento do FBSP.
Também participaram da conferência Martin Bartness, ex-subcomandante da polícia de Baltimore, nos EUA, e Madeline Kramer, gerente de programa sênior da Associação Internacional de Chefes de Polícia (IACP, na sigla em inglês), e Isabela Figueiredo, que é diretora do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), vinculado ao Ministério da Justiça e da Segurança Pública.
ERRATA: diferentemente da versão anterior que informava que 86 policiais praticaram homicídio seguido de suicídio, o número correto é 67. O IPPES contatou a reportagem para esclarecer que havia apresentado o número incorreto durante a conferência. O texto foi corrigido às 19h47, de 15/8/2024
A reportagem viajou a Recife a convite do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.