Wesley Silveira Marques ficou preso às ferragens de um carro após uma perseguição. No hospital, os pais do suspeito souberam que ele foi baleado duas vezes
Por Kaique Dalapola, da Ponte Jornalismo
Três jovens foram detidos pela PM-SP (Polícia Militar do Estado de São Paulo) após perseguição que terminou em acidente no sábado (20/2), na avenida Paulo Guilguer Reimberg, Jardim Campinas, Grajaú, na zona sul de São Paulo. Um, desses três jovens, era Wesley Silveira Marques, 18 anos, que mesmo preso nas ferragens do carro, aparece sendo ameaçado em uma gravação de dentro da área isolada, que teria sido feita por um PM. No hospital, os pais do jovem descobriram que ele havia levado dois tiros.
A batida aconteceu depois que os jovens fugiam da Polícia Militar usando um veículo Chevrolet Zafira, placa EQQ-9018, que havia sido roubado na sexta-feira (19/2). Quando os jovens chegaram mais ou menos na altura 1000 da avenida Paulo Guilguer Reimberg, bateram em um ônibus da linha 6063-10 – Terminal Varginha/Jardim Varginha e atingiu pelo menos outros dois carros.
Uma filmagem feita dentro da área isolada no local da batida, mostra um homem ameaçando Wesley que, com rosto ensanguentado e preso nas ferragens do carro, pedia por favor para ser retirado dali. “Vou tirar você daqui para o cemitério”, disse o homem. Além disso, esta mesma pessoa que ameaçou Wesley, mandava o jovem preso às ferragens manter as mãos na cabeça, e o chamava de “ladrão filho da puta”. A imagem mostra, ainda, uma arma dentro do veículo.
Wesley não havia passagens pela polícia. Até no final de janeiro, o rapaz morava com sua noiva e trabalhava no açougue do sogro, no bairro do Cocaia, também no Grajaú. Depois de seis meses empregado no açougue, e um pouco mais do que isso morando com a moça, Wesley havia saído do emprego 15 dias antes da ocorrência, depois de se separar da noiva.
Do local do acidente, Wesley foi encaminhado para o Hospital Geral do Grajaú, onde permaneceu até segunda-feira (22/2), acompanhado por PMs e sem a permissão de receber visitas. “Eu não queria visitá-lo. Não era preciso eu conversar com ele. Eu só queria ver pelo menos de longe, e receber informações, mas nem isso podia”, lamentou Ilda Amélia Marques, 37 anos, mãe de Wesley.
No hospital, sem poder ver o filho, os pais do jovem ficaram sabendo que além das fraturas no rosto, Wesley havia sido baleado duas vezes. Um tiro foi de raspão nas costas e o outro, segundo André Silveira Marques, 39 anos, pai de Wesley, perfurou a perna e o projétil se alocou na bacia do rapaz. O pai do jovem ainda disse que, conforme explicação dos médicos do Hospital do Grajaú, a bala não havia sido retirada, nem havia necessidade de retirá-la, pois “a carne absorveria”. Não se sabe de onde e em que momento aconteceram os tiros.
Apesar dessas informações dadas pelos médicos, um dia antes, outros médicos haviam dito que a bala estava se movendo dentro de Wesley, e seria necessário operá-lo. “Alguns médicos diziam que a bala havia acertado o intestino e era preciso operar. Outros diziam que não precisava da operação. Isso foi nos deixando cada vez com mais medo”, lembrou André.
Mesmo sem concordância nas explicações dos médicos aos pais, Wesley recebeu alta na noite de segunda-feira, sendo receitado o uso de anti-inflamatório, analgésico e antibiótico, além de ter marcado retorno para sexta-feira (26/2), para verificar a necessidade de fazer uma cirurgia buco maxilar.
Do Hospital Geral do Grajaú, Wesley foi encaminhado para o 101º Distrito da Polícia Civil, que fica no Jardim das Embuias. O jovem foi para o DP usando apenas o avental de paciente fornecido pelo hospital, pois não foi permitido que os familiares entregassem roupas a ele. Apesar dos ferimentos, Wesley foi conduzido ao Distrito Policial no camburão de uma viatura.
Chegando no 101º DP, os pais do rapaz tentaram entregar uma roupa para o jovem passar a noite, contudo não foi permitido, e ele teve que dormir usando apenas o avental. Sequer os medicamentos foram liberados a entrada, cujos quais eram, principalmente, para evitar dores e infecções.
Somente na manhã do dia seguinte, terça-feira (23/2), que a família pôde entregar uma bermuda, uma camiseta, um chinelo, uma pasta e escova de dente, e sabonete para serem levadas a Wesley. E essas foram as únicas coisas permitidas que o rapaz recebesse da família.
Contato com os parentes
Ainda durante a internação do jovem no hospital, na segunda-feira (22/2), André contou a história para amigos da Ocupação Plínio Resiste, na qual reside. Alguns conhecidos foram aparecendo e se solidarizando até que conseguiram falar com o secretário Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Eduardo Suplicy.
Enquanto André ainda falava com Suplicy no telefone, Wesley foi levado do Hospital do Grajaú para o 101º DP. Assim que o jovem chegou no Distrito Policial, o secretário ligou no local e falou com o delegado de plantão. Só então os pais de Wesley puderam vê-lo e conversar com ele pela primeira vez desde o sábado da batida. Entretanto, a visita durou aproximadamente dois minutos e foi acompanhada por policiais.
Na quarta-feira (24/2), Wesley pediu para um advogado, que havia ido visitar outra pessoa detida, entrar em contato com seus pais para dizer que estava vivo, apesar dos ferimentos. Depois de conversar com André no 101º DP, o advogado foi informado que Wesley seria transferido para o Centro de Detenção Provisória II de Guarulhos.
Outro lado
Procurado pela Ponte Jornalismo, o CDP II de Guarulhos confirmou a informação que Wesley está detido no local desde quarta-feira (24/2). A família poderá visitá-lo somente a partir de 26/3.
À reportagem, o Hospital Geral do Grajaú afirmou que o Wesley não retornou ao hospital na sexta-feira (26/2), no horário que havia marcado o retorno.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, que está sendo procurada pela reportagem da Ponte desde segunda-feira (22/2), disse que o caso está em apuração.