Manifestações pela morte dos jovens Kelvin dos Santos, de 16 anos, e Wender Bueno, 20, baleados em abordagem da Polícia Militar, ocorreram em três pontos de Londrina na segunda-feira (17/2). “Foi execução”, dizem familiares

“Não foi confronto, foi execução.” Essas foram as principais palavras de ordem repetidas durante a manifestação realizada na tarde de segunda-feira (17), na Avenida Brasília, na altura do Jardim Nossa Senhora da Paz, a conhecida Favela da Bratac. Dezenas de moradores protestaram por causa das mortes de Kelvin Willian Vieira dos Santos, de 16 anos, e Wender Natan da Costa Bento, 20, pela Polícia Militar do Paraná, na noite de sábado (15/2), no Jardim Santiago.
Manifestações aconteceram ao mesmo tempo em ao menos outros três pontos de Londrina, e resultaram na queima de um ônibus, conforme informado pela CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização). O transporte coletivo chegou a ser suspenso na noite de segunda, retornando a partir das 6h desta terça-feira.
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A versão da polícia para a morte dos jovens é de que eles foram abordados num carro que anteriormente havia sido usado para furtos em residências. Eles teriam reagido armados e, por isso, foi preciso matá-los. As famílias contestam.
Elas sustentam que os dois estavam trabalhando no lava-jato e que usaram um dos carros que havia acabado de ser lavado para buscar bebidas numa loja de conveniência próxima à Bratac, onde foram abordados. Eles teriam descido do carro de mãos levantadas e, mesmo assim, foram alvejados com vários tiros. Os familiares acreditam que a polícia plantou armas junto aos corpos.

‘Só um tiro mata’
A mãe do adolescente Kelvin, Cirlene, tomou o microfone durante o protesto na Bratac para relembrar os últimos momentos do filho em um aniversário e sustentou que ele não tinha envolvimento com o crime. Ela também pediu que autoridades como prefeito e governador se comprometam com a instalação de câmeras nas fardas dos policiais, um pleito antigo do grupo Justiça por Almas-Mães de Luto em Luta, formado em Londrina.
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Cirlene condenou o que chama de execução, dado o número de tiros disparados. “Tanto tiro que eles levaram, tanto, tanto, que a gente não conseguia nem entrar no IML pra ver”, disse a mãe.
O desabafo foi postado em uma rede social:
https://www.instagram.com/reel/DGMFhQBRFQa
Muito abalada, Vanessa, mãe de Wender, de 20 anos, também contestou a versão de que o filho teria confrontado a polícia.
Mães vão ao Gaeco
Na terça-feira (18/2), as mães dos dois jovens mortos pela PM foram ao Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado do Paraná pedir imparcialidade na investigação do caso. As mães, Sirlene e Vanessa, afirmaram que os filhos eram trabalhadores e que Kelvin estudava e tinha boas notas. O boletim escolar do adolescente foi uma das provas juntadas pela mãe na defesa, que está a cargo da advogada Iassodara Ribeiro.
Durante a reunião, o delegado do Gaeco, Ricardo Jorge Pereira Filho, explicou as atribuições do órgão e garantiu que acompanhará o desenrolar das investigações feitas pela Polícia Civil do Paraná, sem a necessidade de abertura de um inquérito independente. Participaram da reunião representantes da Ordem dos Advogados do Brasil-Subseção Londrina, do Centro de Direitos Humanos (CDH Londrina) e dos mandatos do deputado estadual Renato Freitas e do deputado federal Tadeu Veneri, ambos do PT.

“Existe um processo instaurado (na Polícia Civil) e nada indica que ele não será desenvolvido”, afirmou o delegado. “O objetivo é provar se houve ou não confronto”.
As manifestações por justiça iniciadas no domingo seguiram na terça-feira (18/2), na praça do bairro Nossa Senhora da Paz, a Favela da Bratac.