Caso ocorreu em Peruíbe (SP). Docente puxou coro em sala de aula questionando se adolescente de 14 anos parecia ou não com uma detenta, mesmo diante do desconforto da estudante. Polícia Civil registrou o caso como injúria

A mãe de uma aluna negra da escola estadual José Batista Campos, em Peruíbe, litoral sul de São Paulo, registrou boletim de ocorrência em razão de um episódio no qual diz entender que a filha foi vítima de racismo. A adolescente, que tem 14 anos, foi chamada de “presidiária” por uma professora por calçar chinelos com meias ao ir para o colégio. A docente ainda afirmou que os pés da garota eram sujos, diz a familiar da estudante.
O caso ocorreu no último dia 25 de março. Na ocasião, logo antes de iniciar a aula para uma das turmas do 8º ano do ensino fundamental, a professora teria questionado a garota em particular se ela estaria em um presídio, ao repreender o uso do calçado. A adolescente respondeu comedida que só havia feito uma escolha mais confortável.
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Mesmo com o aparente desconforto da aluna, a professora teria seguido com a reprimenda, desta vez direcionando-se a todos os colegas da classe. À frente da sala, ela teria dito que, por ser também advogada, já teria visitado presídios, onde as pessoas fariam uso da mesma combinação de chinelos e meias. A professora prosseguiu afirmando ainda que, diferentemente da adolescente, os presos usavam meias mais limpas e seriam mais organizados, conta a mãe da estudante.
Ela então puxou um coro da sala: “Os presidiários não se vestem assim, pessoal?”. E questionou a aluna: “Me diz se os presidiários não se vestem assim.” A garota se negou a responder, manifestando estar constrangida com a exposição, e foi posteriormente à coordenadoria da escola, ocasião em que professora teria se desculpado.
Diretora defendeu professora
A mãe da adolescente relatou à Ponte que, no dia 24 de março, a mesma profissional já havia se indisposto com a filha. Na ocasião, a garota teve um sangramento no nariz e pediu repetidas vezes para ir ao banheiro, ao que a professora deu de ombros. Após a estudante deixar a sala e receber a ajuda de inspetores, a docente veio ao encontro dela e contestou o que fazia longe da aula, afirmando aos demais funcionários que a menina seria “manipuladora”.
“Outros alunos me disseram que ela só ‘pega no pé’ da minha filha e de outras duas crianças de cor”, diz a mãe da adolescente repreendida pela professora. A familiar afirma também que, no último dia 27, procurou a diretora da escola. Na ocasião, no entanto, a gestora teria saído em defesa da docente alegando que a adolescente poderia ter distorcido os fatos.
A mãe da aluna buscou ajuda do Conselho Tutelar da cidade e do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), quando foi orientada a registrar um boletim de ocorrência junto à Polícia Civil, o que fez na última segunda (31/3). O caso foi registrado como injúria.
A docente segue dando aulas para a garota. Em contato com a Ponte, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) comunicou que a Diretoria de Ensino de São Vicente apura o episódio para eventualmente aplicar sanções administrativas aos envolvidos e que conta com um programa de atendimento psicológico à disposição da aluna. “A unidade intensificará projetos para fortalecer a convivência pacífica, o respeito e o combate ao bullying e ao racismo”, escreveu ainda.
Leia a íntegra do que diz a Seduc-SP
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) repudia toda e qualquer forma de discriminação racial, dentro ou fora do ambiente escolar. A Diretoria de Ensino de São Vicente está apurando os fatos para verificar as sanções administrativas que serão aplicadas, em caso de constatação de irregularidades na conduta de servidores envolvidos. Um psicólogo do Programa Psicólogos nas Escolas está à disposição da vítima, e a unidade intensificará projetos para fortalecer a convivência pacífica, o respeito e o combate ao bullying e ao racismo. A Diretoria de Ensino e a unidade escolar permanecem à disposição dos responsáveis para esclarecimentos.