Sete PMs são mortos no estado do Rio em sete dias

    Para Silvia Ramos, especialista em segurança pública, tais homicídios são “inaceitáveis” e “uma antecipação sombria do que vai acontecer no Rio este ano se as atuais políticas forem mantidas”

    Os PMs Jonathan Barros de Carvalho e André William Barbosa de Oliveira, em cartaz do Disque-Denúncia. Foto: Reprodução
    Os PMs Jonathan Barros de Carvalho e André William Barbosa de Oliveira, em cartaz do Disque-Denúncia. Foto: Reprodução

    Sete policiais militares foram assassinados nos últimos sete dias no estado do Rio de Janeiro. Quatro deles foram mortos somente nos primeiros dois dias do ano, outros dois nas últimas 24 horas. Antes de o ano virar, na tarde do dia 30 de dezembro, outro agente havia sido assassinado. As informações são da assessoria de imprensa da Polícia Civil do estado.

    Para Silvia Ramos, especialista em segurança pública, os homicídios dos sete PMs são “inaceitáveis” e “uma antecipação sombria do que vai acontecer no Rio este ano se as atuais políticas forem mantidas”. Para ela, que é pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), se os agentes continuarem atuando sob a “lógica da revanche”, haverá recordes de mortes de policiais, de mortes de moradores e de casos de mortes por balas perdidas.

    A caminho do trabalho, por volta das 4 horas da madrugada desta quinta-feira (5/1), o PM Marcelo Abdala Neder, de 34 anos de idade, foi morto a tiros na altura do km 184 da rodovia Presidente Dutra (BR 116), no município de Nova Iguaçu. Neder ela lotado no 3º Batalhão da Polícia Militar (BPM), no Méier, Zona Norte do Rio. Outros dois policiais que o acompanhavam ficaram feridos. Sete pessoas tentavam roubar uma carga na rodovia quando reconheceram os três agentes.

    Horas antes, por volta das 20 horas de quarta-feira (4/1), o soldado Jefferson Cruz Pedra, de 37 anos, foi morto em uma tentativa de assalto a uma joalheria no Off Shopping, na Tijuca, também Zona Norte da capital fluminense. Lotado no 18º BPM, no Jacarepaguá, Zona Oeste da cidade, o policial trabalhava como segurança da joalheria onde o crime aconteceu. Um casal que passava em frente ao estabelecimento foi atingido nas pernas. Os três foram socorridos no Hospital Federal do Andaraí, mas, atingido por sete disparos, o PM morreu pouco após chegar à unidade.

    O PM Marcelo Abdala Neder. Foto: Reprodução
    O PM Marcelo Abdala Neder. Foto: Reprodução

    Na tarde da última sexta-feira (30/12), o soldado Jonathan Barros de Carvalho, de 26 anos, foi morto quando tentava impedir um assalto na Freguesia, Zona Oeste do Rio. Segundo a Polícia Civil, dois homens armados abordaram uma pessoa que saía de um banco quando o PM interveio e foi baleado. Um transeunte também foi atingido e morreu no local. Também lotado no 18º BPM, o policial estava de plantão na cabine da PM que fica em frente ao Center Shopping, na avenida Geremário Dantas. Baleado no tórax, ele foi socorrido por colegas e levado ao Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas não resistiu.

    Antes mesmo do amanhecer de domingo, primeiro dia do ano, o corpo do PM André William Barbosa de Oliveira, de 31 anos, foi encontrado com marcas de tiros no porta-malas de seu carro, na Rua Clodoaldo de Freitas, em Guadalupe, na Zona Norte do Rio. Lotado no 3º BPM, no Méier, o policial tinha passado a virada de ano em Realengo, na Zona Oeste.

    Ainda na manhã de domingo, o PM Antônio Carlos Paiva Nunes, de 34 anos, foi baleado na cabeça durante confronto na avenida Leopoldo Bulhões, próximo a Manguinhos, na Zona Norte da capital fluminense. Lotado na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Andaraí, ele foi socorrido, mas teve morte cerebral no dia seguinte (2), no Hospital Quinta D’or, em São Cristóvão.

    Por volta das 15 horas de segunda (2/1), o sargento reformado Francisco Assis de Aguiar, de 56 anos, foi morto em uma troca de tiros com bandidos que assaltavam um banco na rua Professor Rocha Faria, na Vila Guapi, município de Guapimirim, na Baixada Fluminense. Ele trabalhava como segurança e estava com outro PM quando foi abordado por dois homens a bordo de uma motocicleta. O colega foi ferido por estilhaços. Francisco morreu no Hospital Municipal de Guapimirim.

    Na mesma tarde, o cabo Cleiton William Santos de Freitas foi fuzilado dentro de seu carro na Estrada do Tinguá, em Xerém, na Baixada Fluminense. Ele era lotado no 15º BPM, no município de Duque de Caxias.

    Segundo a assessoria da Polícia Civil, a Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) e a Divisão de Homicídios da Capital realizaram perícias nos locais dos crimes, procedimentos foram instaurados para apurar as circunstâncias em que cada um ocorreu e diligências estão em andamento para localizar os autores dos assassinatos. Em nota enviada à Ponte, a assessoria de imprensa da Polícia Militar afirma que a corporação “lamenta e se preocupa com os policiais mortos ou feridos, em serviço ou na folga, e vem tomando providências para reduzir a vitimização policial”, como o reforço do policiamento em trajetos com alta incidência desses crimes, a realização de um programa de capacitação, a recuperação de veículos blindados e o fornecimento de coletes à prova de balas (leia a nota na íntegra abaixo).

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    O PM Cleiton William Santos de Freitas. Foto: Reprodução

    “É preciso evitar a lógica da revanche”

    “Quando um policial morre ou é ferido em serviço, usando a farda da polícia, não é só uma vítima que está em questão: é a própria legitimidade da polícia. Os procedimentos que levaram àquela morte têm que ser revisados imediatamente. Se for numa área da UPP, a primeira providência é proteger toda a tropa. Não só mudando sistemas de patrulhamento, mas impedindo que o resto da tropa trabalhe na lógica da revolta ou da revanche”, afirma a especialista em segurança pública Silvia Ramos.

    Segundo ela, é preciso evitar que haja vingança por parte de agentes. “Muitas vezes os policiais são mortos em emboscadas covardes preparadas por criminosos. Mas para reduzir essas mortes não é possível responder com mais confrontos. As autoridades têm que ter coragem para mudar a insanidade dos tiroteios que estão crescendo nas favelas. O Rio não pode voltar a ter a polícia que mais mata e que mais morre no mundo”, conclui.

    Nota da Polícia Militar do Rio de Janeiro:

    “A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro lamenta e se preocupa com os policiais mortos ou feridos, em serviço ou na folga, e vem tomando providências para reduzir a vitimização policial.

    A primeira delas é a intensificação da Operação Deslocamento Seguro, que reforça o policiamento em trajetos onde foi registrada a maior incidência crimes contra a vida do policial.

    Outra medida importante é o Programa Permanente de Capacitação Continuada, que tem por objetivo reavaliar as tomadas de decisão dos policiais em momentos de ameaça e perigo. Implementado em dezembro de 2015, o Programa tem duração de quatro semanas e conta com a utilização do Estande de Tiros e Tomada de Decisão Virtual, com vistas a aperfeiçoar as tomadas de decisão dos policiais, especialmente no tiro de defesa.

    Além dessas ações, uma parceria com o Sindicato das Empresas do Transporte Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro (SINDICARGA) vem promovendo a recuperação de veículos blindados que se encontram fora de operação por avarias.

    Quanto aos equipamentos de proteção individual (EPI), a PMERJ dispõe de 38 mil coletes balísticos, sendo que 4.600 em reserva técnica, e um convênio olímpico firmado com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) disponibilizará mais 11.500 coletes à instituição.

    O Comandante-Geral da PMERJ, Coronel PM Wolney Dias Ferreira, afirma que nada é mais valioso para a Polícia Militar do que a sua tropa:

    – O Policial Militar é e sempre será o maior patrimônio da Corporação.”

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