Renê Robson Rodrigues estava com outros dois policiais civis fora da sua área de cobertura, na zona leste de SP. O agente tentava colocar suspeito na viatura quando um homem pegou sua arma
O policial civil Renê Robson Rodrigues, de 48 anos, morreu durante uma abordagem feita a suspeitos com outros dois policiais no Jardim São Rafael, zona leste de São Paulo, na tarde da última sexta-feira (07/04). O policial estava lotado no DECAP (Departamento de Polícia Judiciária da Capital), atuando no 54º DP (Cidade Tiradentes).
Rodrigues estava em um Fiat Palio, da Polícia Civil, descaracterizado, com o agente Arsenio Feliciano Junior e a carcereira Débora dos Santos. Os companheiros da vítima afirmaram ao DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) que, por volta das 16h45, transitavam pelo Jardim São Rafael (área do 49º DP) quando viram um suspeito que correu para um bar ao suspeitar que no carro havia policiais.
Imediatamente, Rodrigues, que estava no banco dianteiro do passageiro, saiu do carro e abordou o suspeito, identificado como José Carlos da Silva, que informou aos policiais que era procurado pela Justiça, mas que estava sem documentos. O policial, então, algemou o suspeito com as mãos para trás.
Nesse momento, a carcereira sentou-se no banco dianteiro do passageiro, enquanto Renê tentava colocar o suspeito no banco traseiro. Ela afirmou ao DHPP que José Carlos da Silva começou a gritar que o trio não era policial, que eram justiceiros e que iriam matá-lo, impedindo, com os pés, que a porta fosse fechada.
Pessoas que estavam nos bares da rua saíram e cercaram o Fiat Palio. Eram cerca de 15, segundo os policiais envolvidos, sendo que algumas estavam armadas. Enquanto Rodrigues tentava entrar na viatura, gritou que alguém havia pegado sua arma e, logo em seguida, saiu novamente do carro. Débora, ao tentar sair com seu revólver em punho, foi dominada e teve sua arma roubada.
Arsenio afirmou que estava na direção do carro e que, quando se virou para pegar sua pistola, que estava sobre o console central, percebeu que ela também havia sido levada. Ele diz ter percebido o criminoso apontando a pistola na direção da sua cabeça, quando arrancou com a viatura, com José Carlos da Silva ainda algemado no banco traseiro.
O policial civil afirma que foi obrigado a parar o carro porque havia um caminhão atravessado, atrapalhando a passagem. Ele largou o Palio e correu a pé, passou por uma viela e pulou dentro de um córrego, onde ficou até perceber a presença de outros policiais na região.
Enquanto isso, Débora afirmou ao DHPP que conseguiu se desvencilhar dos criminosos entrando dentro de uma mercearia que acabou fechando as portas durante a confusão. Ela saiu pelos fundos do estabelecimento, entrando em uma construção e permanecendo lá até a chegada da Polícia Militar. Débora disse que, quando saiu carro, conseguiu ver um homem que estava com a arma de Rodrigues nas mãos.
Nenhum dos dois companheiros de Renê viu o momento em que o policial foi baleado. Afirmaram que somente escutaram muitos tiros. Relataram que os fatos ocorreram de uma maneira muito rápida, que nem sequer tinham conseguido pegar os dados de José Carlos da Silva, que acabou fugindo assim que Arsenio largou o carro.
Foram encontrados, no local do crime, sete estojos de calibre .45, três projéteis de arma de fogo amolgados e um boné de cor preta. No 54º Distrito Policial foram apresentados mais dois projéteis de arma de fogo. Após investigação, a Polícia Civil chegou à conclusão de que o homem abordado é José Carlos da Silva, foragido da Penitenciária de Franco da Rocha II.
Após agentes exibirem diversas fotos para os policiais Arsenio e Débora, a carcereira reconheceu “com absoluta certeza” a fotografia de Antonio Bezerra dos Santos como o homem que estava com a pistola de Renê nas mãos. Ela também reconheceu Cleiton Santana da Silva como comparsa de José Carlos da Silva no momento da abordagem, tentando retirá-lo do carro. Arsenio também reconheceu Cleiton.
A Ponte Jornalismo teve acesso a um vídeo gravado por policiais civis do GOE (Grupo de Operações Especiais), em que eles “entrevistam” um suspeito que confessa ter assassinado o policial Renê Rodrigues. Seria Sergio Lira de Oliveira, vulgo “Noturno”.
Renê foi socorrido por policiais militares ao Pronto Socorro do Hospital Geral de São Matheus. Ao chegar ao local, ele já não respirava mais. Ele foi baleado uma vez no lado esquerdo do tórax, quatro no ombro direito, dois na região mandibular esquerda, um na região frontal, dois na lateral direita do pescoço e dois na região da lateral direita do tórax.
Outro lado
A reportagem da Ponte Jornalismo questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública), por meio da empresa terceirizada que presta serviço à pasta, a CDN Comunicação, sobre o caso, com as 10 perguntas abaixo:
1 – O que os três policiais civis faziam no local?
2 – Quem autorizou a saída deles do 54 DP?
3 – Existe ordem de serviço pra diligência que eles faziam?
4 – Como eles sabiam que um “suspeito” e foragido da Justiça estava naquela região?
5 – É comum que policiais civis façam diligências no fim da tarde de sexta-feira?
6 – O que a carcereira Debora dos Santos fazia na diligência?
7 – O que o delegado titular do 54º DP tem a dizer sobre a morte do investigador Rene Robson Rodrigues?
8 – Os policiais civis estavam em um carro descaracterizado e sem rádio de comunicação. Por qual motivo?
9 – Os três policiais envolvidos na detenção de José Carlos da Silva são investigados pela Corregedoria da Polícia Civil? Caso sejam, por favor, por quais suspeitas?
10 – Durante o ataque conta o policial Rene Rodrigues, onde estavam seus dois companheiros de operação?
A posição oficial da SSP, que tem à frente o secretário Mágino Alves Barbosa Filho, nesta quarta gestão do governador Geraldo Alckmin, é a seguinte:
“A Polícia Civil informa que o caso segue investigação por meio de inquérito policial instaurado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Outras informações não podem ser divulgadas para não prejudicar a investigação”, limita-se a afirmar, em nota.