Outro homem abordado, em ocorrência no dia 25/03, foi levado a um posto policial e depois liberado, sem passar pela delegacia
O integrante de um grupo musical, de 35 anos, afirma ter sido torturado por um policial da 3ª companhia do 27º Batalhão de Polícia Militar, após abordagem na avenida Carlos Barbosa dos Santos, Jardim Lucélia, região do Grajaú, periferia da zona sul de São Paulo, durante a madrugada do dia 25 de março.
De acordo com o artista, que não quis se identificar com medo de represália, ele e um amigo estavam em um carro sem documento quando foram abordados por dois policiais militares da viatura 27322, por volta da 1h45 da madrugada. O único questionamento que o policial teria feito foi sobre os antecedentes criminais dos abordados.
“O policial me perguntou se eu tinha passagem. Eu respondi que sim e ele pegou meu documento. Depois ele voltou louco”, afirma. Segundo o artista, ele foi condenado a dois anos e seis meses por porte ilegal de arma de fogo e receptação de produto fruto de crime, em 2003. Ele ficou nove meses preso e pagou 900 horas de serviço comunitário.
Segundo o artista, quando o PM volto, após verificar a passagem, o segurou pelo pescoço, jogou spray de pimenta em seu olho e começou a dar murros no seu no rosto. Em seguida, os militares chamaram uma outra viatura que teria levado o carro e o outro homem para um dos grupamentos da Polícia Militar na área.
“Na periferia é tudo irregular. Eles levaram para o postinho policial. Se for ver mesmo, a gente não precisava apanhar e nem ir para delegacia. Mas na periferia as coisas não funcionam desse jeito, não. Os caras fazem da forma que querem”.
De acordo com o artista, durante a abordagem, os PMs se questionaram se iriam “zerar” (matar) o abordado ou chamar outra “VT com o kit” (viatura com drogas para forjar um flagrante) e levá-lo preso.
Ele acredita que só foi dispensado porque alguém gritou “eu estou vendo essa covardia, hein”. O artista e os policiais não conseguiram localizar de onde veio a voz. O artista ainda afirma que, antes de ser liberado, os PMs tiraram foto dele ensanguentado.
“Os PMs mandaram eu sair fora e já entraram em uma rua. Eu deduzi que eles iam fazer mais maldade, então entrei em uma construção. Fiquei por lá para recuperar minhas forças. Enquanto eu estava lá, vi as luzes do giroflex passando. Eles estavam me caçando para me assassinar”, afirma.
O outro homem teria sido liberado sem sequer ser levado à delegacia. A área é atendida pelo 101º DP (Jardim das Imbuias). O carro, no entanto, ficou apreendido pelos PMs.
Os homens não registraram formalmente a denúncia sobre a ocorrência. De acordo com o artista, o caso não será investigado e os PMs não serão punidos pelo fato dele ter passagem, por isso não registrou boletim de ocorrência.
A reportagem entrou em contato com a empresa CDN Comunicação, contratada pelo Governo do Estado de São Paulo para fazer o serviço de assessoria de imprensa da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), informou o que foi relatado pelo artista, pediu informações sobre o caso e o posicionamento da pasta, além de ter feito os seguintes questionamentos:
O procedimento dos PMs foi correto?
Quem foram os PMs que participaram dessa ocorrência?
A empresa que recebe dinheiro público para atender à imprensa se limitou em enviar a seguinte nota:
“A Corregedoria da Polícia Militar está à disposição de todo cidadão que tiver queixas quanto à conduta de PMs para formalizar denúncia, que permite a devida apuração dos fatos e, se comprovado excesso, punição dos policiais”.