Elas foram detidas para “averiguação” após serem fotografadas em manifestação por moradia no centro de São Paulo
Integrantes da Frente de Luta por Moradia e moradoras de uma ocupação no centro de São Paulo, Antonia Glaucia de Araujo, de 49 anos, e Elaine Gonçalves da Silva, de 25, foram abordadas e detidas, nesta sexta-feira (30/9), dentro de uma padaria, localizada na esquina da Rua Aurora com a Avenida Rio Branco, acusadas de obstruir a via pública.
Algumas horas antes, elas haviam participado de um protesto que ocupou a esquina da Ipiranga com a São João contra as reformas propostas pelo presidente Michel Temer (PMDB) e cobrando a construção de mais moradias governador populares do governo Geraldo (PSDB).
Os manifestantes fizeram um ‘trancaço’ tocando fogo em pneus e pedaços de madeira. A PM reprimiu o protesto, usando bombas de gás lacrimogêneo e gás pimenta, e dispersou os manifestantes, que seguiram para outros locais da região central. Os integrantes da manifestação responderam com fogos de artifício.
Há dez dias, a Ponte Jornalismo revelou detalhes sobre a norma que permite que a PM grave manifestações de qualquer natureza e armazene esses dados. Nesse caso, não foi preciso nem mesmo guardar os arquivos. Imediatamente após o protesto, os policiais começaram a procurar os manifestantes, que tinham se dispersado e reconheceram o rosto das duas mulheres, que tomavam café na padaria.
O comandante do Choque, PM Ronaldo, chegou a dizer que queria “conversar” com as duas e as obrigou a entrar na viatura. Elaine resistiu e o comandante chegou a dizer “ninguém disse que a senhora é ladrona” e, na sequência, informou que elas seguiriam para a delegacia para “averiguação”.
Antonia e Elaine foram levadas ao 3º DP e liberadas no início da tarde. No boletim de ocorrência, a acusação é de obstrução de via. Já na delegacia, os policiais que tinha feito a prisão obrigaram Elaine a desbloquear o celular e ficaram vasculhando informações, fotos e áudios pessoais dela.
Desde quinta-feira, integrantes de pelo menos 60 entidades ligadas à luta por moradia estão ocupando o prédio da CDHU, na rua Boa Vista, e parte da calçada em um acampamento montado para pressionar a gestão tucana, que, segundo o movimento, não teria entregue 10 mil unidades habitacionais prometidas em 2013. Assim como Elaine e Antonia, esses grupos também participavam do protesto desta manhã.
Outro lado
A Ponte enviou um e-mail à CDN, assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, questionando a motivação das detenções e a ação da PM, mas até o momento não obteve resposta.