Acusado por roubo de moto, Jonathan de Araújo Souza está preso no CDP de Guarulhos após perder parte do rim e intestino; policiais envolvidos na ação foram afastados
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A Corregedoria da PM e a Polícia Civil investigam se houve erro de policiais militares na prisão de Jonathan de Araújo Souza, de 18 anos, acusado por roubo de moto. No dia 9 de julho, uma perseguição na Cidade Ademar, zona sul de São Paulo acabou com a prisão do jovem, baleado pelas costas. Segundo a defesa, houve confusão de suspeitos.
Jonathan está preso preventivamente no CDP de Guarulhos desde a saída do hospital, onde foi identificado, através de reconhecimento fotográfico, pelo PM Carlos Henrique Fogaça Mattos, de 29 anos. O policial Marcos Roberto Santos de Almeida, 44, também participou da ação.
Atingido pelas costas, o vendedor teve parte do rim e do intestino retirados por conta dos danos. Ele não tem antecedentes criminas e teve habeas corpus de soltura negado pela Justiça, que argumentou não ser preciso ter “provas cabais” para manter o suspeito em reclusão de liberdade.
A defesa do jovem aponta que houve confusão por parte da dupla quanto ao suspeito do crime. Segundo o advogado Afonso Luís Fernandes de Oliveira, não foram colhidas todas as provas, sendo que a perícia não identificou na moto de Jonathan um projétil .40, de uso da PM, e encontrado na fuselagem após o acontecido.
Os dois policiais envolvidos na ação foram afastados do trabalho nas ruas, recolhidos para serviço administrativo, enquanto a Corregedoria da PM apura o caso. Um inquérito policial militar foi aberto com esta finalidade.
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A ação
O caso aconteceu na Cidade Ademar, zona sul de São Paulo, no dia 9 de julho. Os policiais Marcos Roberto Santos de Almeida, de 44 anos, e Carlos Henrique Fogaça Mattos, 29, foram acionados após o rastreamento de uma moto branca roubada era utilizada para outros crimes.
Segundo o relato dos policias, Mattos encontrou o veículo em uma viela da rua Promo Fazini, junto de uma moto vermelha, que teria fugido do local. O condutor da moto branca foi na direção do policial, caiu e sacou uma arma calibre 38, no momento em que o PM atirou duas vezes. O suspeito ferido conseguiu se desvencilhar e fugiu dos dois policiais, deixando a arma para trás.
Momentos depois, os policias receberam a informação de que um homem foi levado ao Hospital Pedreira após ser atingido por um tiro. Os PMs foram até o local e Mattos reconheceu Jonathan de Araújo Souza como suspeito através de uma fotografia. O dono da moto roubada e uma outra testemunha confirmaram a acusação da mesma forma.
A defesa de Jonathan dá versão diferente. Segundo o advogado Afonso Luís Fernandes de Oliveira, que defende o vendedor, ele passou o dia com a família. Após conversar com um amigo por volta de 15h45, saiu com sua moto vermelha e, dez minutos depois, voltou pedindo socorro. “Acho que tomei um tiro”, disse.
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Testemunhas ouvidas pela Polícia Civil também dão versão diferente das falas dos policiais. Em depoimento, o amigo declarou ter levado o vendedor ao hospital em seu carro. Policiais militares o pararam pela alta velocidade e decidiram escoltá-los com duas viaturas até o local.
“O declarante acredita que seu amigo Jonathan não participou de nenhum roubo, pois como disse, meia hora antes de ser baleado estava em sua companhia e de outras pessoas. Conhece Jonathan há cinco anos e sabe que é de boa índole e nunca se envolveu em algo errado”, escreveu o delegado de polícia Valdemir Apolinário da Silva, que recebeu o depoimento.
A perícia
Um dos pontos questionados pelo advogado de defesa é a perícia feita após os tiros e a recuperação da moto branca roubada. De acordo com Oliveira, os peritos não disponibilizaram equipamentos no local para a retirada da bala da fuselagem da moto vermelha, de Jonathan.
“O primeiro disparo pegou na carenagem da moto, fiz um boletim adendo informando isso. Foi recolhido sangue da moto vermelha e fotografada a perfuração no lado direito”, argumenta, dizendo ter sido encontrado o projétil após um mecânico, a pedido da defesa, ter desmontado a moto.
Foi feito um boletim de ocorrência complementar para incluir a bala de .40 nas investigações.
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Questionada pela Ponte Jornalismo sobre o caso, a SSP, através de sua assessoria de imprensa terceirizada, CDN Comunicação, apontou que “a Superintendência da Polícia Técnica-Científica informa que o laudo da motocicleta branca está sendo finalizado e deve ser entregue à autoridade policial ainda nesta semana. Sobre a moto vermelha, a SPTC informa que a perícia foi realizada e não foi encontrado nenhum projétil durante o desmonte do veículo”.
Em relação à investigação, a pasta aponta que as provas técnicas e depoimentos foram entregues ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, que expediu o mandado de prisão preventiva de Jonathan. “A versão do acusado deve ser apreciada em sede de instrução criminal, pelo Poder Judiciário”, segue.