Após morte de colega, policiais iniciaram operação em favela do Rio que já dura seis dias; ontem, moradores protestaram e foram reprimidos
Uma operação deflagrada pela Polícia Militar na favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio, matou ontem um morador vendedor de legumes, conhecido como Tião, da região do Sacolão, com tiros disparados pelo helicóptero Águia da PM. A operação foi iniciada na última sexta-feira (11/8), após a morte de um policial do Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) na região, e continua até agora, entrando no sexto dia.
Em nota, a Polícia Civil declarou que ainda não há informação oficial sobre a morte de Tião.
Nesta terça-feira (15/8), moradores se reuniram e foram para a Avenida Dom Helder Câmara, perto da Cidade da Polícia, pedir por paz. Eles levaram lençóis e rezaram o Pai Nosso.
De acordo com relatos de um dos moradores que estava presente mas não quis se identificar, logo depois a polícia chegou e jogou spray de pimenta e bomba de gás. “Eles começaram com bomba de gás, a galera começou a correr. A maioria era mulher, tinha até criança. Minutos depois os tiros voltaram e dispersou o protesto”, afirmou ele. Outra manifestação está marcada para hoje, às 17h, no mesmo local.
Para os moradores, os policiais atacam os moradores da favela querendo vingar a morte do policial do Core. “Isso é um ato de vingança! Morador não pode pagar por isso!”, disse uma moradora, durante a manifestação de ontem.
“Um inferno”
Eram seis horas da manhã da última sexta-feira (11/08) quando um helicóptero Águia da Polícia Militar começou a atirar enquanto sobrevoava a favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio. Mais uma vez o medo tomou conta dos moradores da comunidade. Segundo uma moradora, que não quis se identificar por medo de represália, o Caveirão (veículo blindado da PM) entrou na comunidade e houve troca de tiros entre policiais e bandidos. Criminosos atiraram um coquetel molotov no Caveirão, que pegou fogo.
“Quando foi a noite, recebemos a notícia de que o policial da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), tinha sido morto”, disse ela. “Nós, moradores, já imaginávamos que íamos viver esse inferno pelos próximos dias”, completa. “Sábado não consegui voltar para casa. Na própria sexta-feira, quando começou tudo isso, tentei voltar para casa mas fui impedida pela polícia”, acrescenta ela, que mora há 27 anos na favela.
Ainda segundo a moradora, seu pai disse que cinco policiais dispararam contra moradores na entrada da favela e gritavam dizendo que ninguém ia entrar. “Está um inferno, ninguém mais aguenta viver desse jeito. Toda hora um morador é baleado”, diz. “O que mais tem me deixado apavorada é essa nova onda do helicóptero entrar dando tiro para o alto”, comenta. “Eles não querem saber se vão acertar pessoas de bem.”