Adolescente negro apanha por R$ 9,81 em supermercado de SP, acusa mãe

    Jovem de 16 anos foi espancado por seguranças e atingido por disparo de arma de pressão antes de pagar chocolate e salgadinho; Pão de Açúcar ‘repudia comportamento’ e afasta funcionários

    Jovem relata ter sido atingido por arma de ar no rosto | Foto: arquivo pessoal

    Três seguranças do supermercado Pão de Açúcar agrediram um adolescente por abrir e comer duas barras de chocolate e um salgadinho dentro do estabelecimento. O caso aconteceu na noite do dia 11 de fevereiro na unidade Jabaquara da rede. Após as agressões, o garoto pagou R$ 10 dos alimentos consumidos.

    Por volta de 23h50, o jovem entrou no mercado, comeu o chocolate e o salgadinho e ia embora quando foi abordado por dois seguranças. Segundo relato de sua mãe, reconheceu o erro e ia em direção ao caixa para pagar o que devia, mas foi impedido. Ela acusa os homens de racismo por vigiarem o garoto por desconfiança prévia desde que ele entrou na loja.

    “No mesmo momento, ele disse que estava errado e ia pagar. Aí os seguranças falaram que não, iam levá-lo para uma salinha conversar e meu filho se recusou. Ele sabia o que ia acontecer dentro da sala. Foi quando os seguranças vieram para cima dele”, conta Luciana Cruz.

    O adolescente afirma que foi imobilizado pelo pescoço e o braço antes de levar chutes no nariz, na perna e na barriga. Depois, de acordo com a versão da mãe, um terceiro segurança chegou disparando com uma arma de “air soft” (arma de ar não letal), acertando seis disparos no rosto do garoto, conforme registrado em fotos.

    “No meio disso tudo ficaram falando que ele era bandido, que era malandrinho, que já tinham tirado diploma na escola dele. O chamaram de favelado, coisas do tipo para julgar ele, logicamente pela cor. Se fosse uma pessoa branca, não falaria que é favelado, com certeza”, aponta Luciana, que fez um post em seu perfil do Facebook para denunciar o ocorrido. A publicação tinha quase 8 mil compartilhamentos e 13 mil reações até a publicação desta reportagem.

    Depois das agressões, o garoto foi ao caixa e pagou R$ 1,79 da barra de 20 gramas do chocolate Laka, R$ 4,99 do chocolate Nestlé Crunch, R$ 2,95 de um pacote 55 gramas do salgadinho Doritos e R$ 0,08 da sacola plástica para levar a segunda barra para casa.

    “Foi uma fragilidade, uma besteira que ele fez. Estava errado? Sim, isso não se faz. Todos nós sabemos que é proibido violar a embalagem dentro do mercado”, comenta a mãe. “Nada justifica a agressão. Chamasse polícia, tem um posto policial na frente, chamasse o conselho tutelar, me ligassem. Além da omissão, teve uma agressão grave, foi um sadismo três homens ficarem batendo em um menino por conta de um salgadinho e de um chocolate”, indigna-se.

    Após as agressões, adolescente pagou os alimentos consumidos | Foto: arquivo pessoal

    Luciana comenta que o filho não falou das agressões em um primeiro momento, disse que havia brigado em um bloquinho de carnaval. Porém, seu irmão contou a história real para a mãe, que foi até o Pão de Açúcar. Lá, conversou com um funcionário.

    “Veio o chefe de segurança só depois que eu gritei e chamei a atenção e me disse que os seguranças tinham sido afastados, que não viu as imagens, mas sabia o que tinha acontecido. Que era grave e afastou os seguranças”, relata.

    Rede lamenta ação de ‘terceirizada’, que demite funcionários

    A Ponte entrou em contato com o grupo GPA, responsável pela rede Pão de Açúcar. Através de sua assessoria de imprensa, a GPA explicou que “não tolera atos de violência e que repudia veementemente qualquer comportamento desse tipo em suas lojas”, além de garantir ter cobrado explicações da empresa terceirizada responsável pela segurança na unidade Jabaquara.

    “A conduta relatada não condiz com o procedimento exigido pela companhia, realizado pela equipe de segurança terceirizada contratada. Assim que tomou conhecimento do caso, a rede instaurou um processo interno de apuração, notificando a empresa a prestar todos os esclarecimentos e afastando imediatamente os envolvidos, até que o caso seja esclarecido junto aos órgãos competentes. Além disso, procedeu com o reforço dos processos internos de conduta”, segue nota da GPA.

    Após a publicação da reportagem, o Grupo G8 Comando, responsável pela vigilância da unidade Jabaquara do Pão de Açúcar, entrou em contato para informar através de nota que os seguranças envolvidos no caso foram demitidos.  Destacou ter como “missão maior a proteção da integridade física e do patrimônio alheio” e investigará o uso de arma de pressão, segundo o Grupo, proibido para seus funcionários.

    “O Grupo não tolera qualquer suspeita de desvio de conduta de seus colaboradores e, ainda em respeito às políticas exigidas pelo Pão de Açúcar para os seguranças em suas lojas, desligou imediatamente os três colaboradores envolvidos no relato da unidade do Jabaquara. Paralelamente a essa decisão, a companhia abriu uma sindicância interna para apurar o ocorrido e tomar as demais medidas necessárias”, explica no documento.

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