Novo chefe da Polícia Militar paulista comandou área onde fica o 16º BPM/M, batalhão conhecido por ser um dos campeões de mortes em SP
O governador de São Paulo, Márcio França (PSB), trocou o comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Sai o coronel Nivaldo Restivo, entra o coronel Marcelo Vieira Salles. Foi uma das primeiras ações práticas que afeta a segurança pública desde que assumiu o lugar do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB). Amigo de França e com bom relacionamento com Alckmin, fruto dos nove anos em que atuou na Casa Militar, o novo líder tem perfil político e conciliador, segundo quem trabalhou com ele.
Salles comandava o policiamento na zona oeste da capital paulista desde junho de 2017, área onde está localizado o 16º Batalhão BPM/M (Batalhão de Polícia Militar Metropolitano) que já foi conhecido como o batalhão paulista que mais mata, segundo reportagem do Estadão, e que, recentemente, se envolveu em mais um caso de uso dos chamados ‘kits flagrantes’. Os 11 policiais detidos no caso são da 3ª e 4ª companhias desse BPM. Anteriormente, ele passou pela Cavalaria e pela Tropa de Choque.
“O Salles é um entusiasta do diálogo da PM com a comunidade, é tranquilo, muito negociador, inteligente. Tem um bom trânsito entre os políticos. O pai dele foi cabo da PM, se aposentou como subtenente, é de família de policiais”, explica uma pessoa próxima ao novo comandante, que pediu para não ser identificada. Teria sido Salles quem informou Alckmin da morte de seu filho, Thomaz Alckmin, na queda de um helicóptero em abril de 2015. “Mostra a proximidade. Ele e o França ficaram amigos nessa época, bem próximos”, segue.
Formado em direito pela Universidade Cruzeiro do Sul, tornou-se oficial na Academia de Polícia Militar do Barro Branco em 1989. Especializou-se como inspetor de equitação em 1993 e participou de estudos sobre polícia e estratégia na Escola Superior de Guerra. Não responde a processos no TJM (Tribunal de Justiça Militar) ou na justiça comum.
O fato de ter comandado por quase um ano a área de um dos batalhão campeão de mortes preocupa especialistas. “A zona oeste é onde fica o 16º batalhão, mata para caramba. O 16º é o que está matando mais. Esta escolha do governo quer dizer que ou apoia esta mortalidade ou se omite e, se omite, apoia. É subjetiva essa escolha e toda mudança causa algum tipo de alvoroço na tropa”, pontua uma pessoa ligada à corporação.
O Instituto Sou da Paz atuou junto de Salles no ano passado e se mostra otimista com o novo comandante da PM. “Foi um trabalho sobre abordagem policial na área dele, com a ideia de melhorar a qualidade das abordagens, e o Salles demonstrou interesse, esteve muito próximo. Nos pareceu alguém bastante aberto à sociedade, sensível às pesquisa de dados, o que é sempre positivo. Bem tranquilo, calmo, afável”, explica Bruno Langeani, gerente do Instituto.
Langeani aponta que o grupo também realiza formação sobre gestão de protestos e, apesar de não ter um projeto estruturado sobre letalidade policial, conseguiram “levar o assunto e apresentar as pesquisas para o comando”, conta. “Trabalhamos por oito meses, mas o foco era a formação junto aos policiais. São referências bastante positivas, não de longa data, mas com um calendário intenso juntos”, diz.
Nesta segunda-feira (23/4), o governador confirmou a troca de comando e a escolha pelo coronel. “Eu acho que é correto, quando você faz a mudança do governo, ter alguém da sua intimidade, próximo ao governador. O coronel Salles conviveu comigo, é um excelente profissional”, sustenta.
O comando da Secretaria da Segurança Pública será mantida com Mágino Alves Barbosa filho, enquanto Júlio Guebert segue interinamente liderando a Polícia Civil desde a aposentadoria do então delegado-geral, Youssef Abou Chahin. França é favorável a tirar a Civil do comando da pasta da Segurança e deixá-la subordinada à Secretaria da Justiça. Para isso, levará projeto com a mudança a ser votado pelos deputados na Assembleia Legislativa de São Paulo.