Márcio França: ‘Quem desrespeitar a PM corre risco de vida’

    Depois de pedir que a imprensa ‘poupe a PM’ de críticas, governador de SP afirma que corporação é ‘sagrada, uma extensão da bandeira do estado’; especialistas consideram declarações eleitoreiras

    França (à dir.) na posse do novo comandante da PM | Foto: Divulgação/Governo de SP

    Desde que assumiu o governo de São Paulo no lugar do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), Márcio França (PSB) tem focado seu trabalho na segurança pública, seja ao nomear um novo comandante para a PM, homenagear uma policial que matou um suspeito ou destacando o tema em seus discursos. Essas ações vêm sendo criticadas por especialistas, que as consideram “eleitoreiras”.

    Durante a posse do coronel Marcelo Viera Salles, no dia 4/5, como novo líder da tropa, França pediu para a imprensa “poupar” os PMs de críticas. “Gostaria que todas as pessoas e a imprensa, de maneira especial, pudessem respeitar esse trabalho, pudesse poupar esses homens, pudessem deixar esses homens para aquilo que são mais treinados: garantir a segurança pública. Essa é a principal tarefa dos senhores”, pediu.

    Nesta segunda-feira (14/5), o governador do Estado foi além: quem desrespeitar a polícia de SP corre risco de morrer, fala dita um dia após França homenagear a PM Kátia da Silva Sastre, que matou um suspeito. “As pessoas têm que entender que a farda deles [PM] é sagrada, é a extensão da bandeira do estado de São Paulo. Se você ofender a farda, ofender a integralidade do policial, você está correndo risco de vida. É assim que tem que ser”, seguiu, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

    Ex-secretário nacional de segurança pública e ex-comandante da PM de SP, o coronel reformado José Vicente da Silva Filho condenou o posicionamento. Para ele, este tipo de discurso abre brecha para os policiais considerarem qualquer ação de civis como algo que justifique uma resposta agressiva.

    “Este tipo de fala tem total contaminação politica, evidente, e é inconveniente para policiais mais desavisados. Dá a impressão de que podem atirar com menos controle. Não é esse o treinamento que o PM tem, que independe da fala de governador”, avalia à Ponte. “O policial tem compromisso com a legalidade, não pode atirar se alguém o xingar. Não é assim que funcionam as coisas”.

    O posicionamento de José Vicente é compartilhado por Samira Bueno, diretora-executiva do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública). “A fala de França flerta com o populismo político e ignora a função primordial da polícia, que é garantir a vida e a cidadania da população. Polícia é a garantia da força e da ordem no estado de direito, não uma força justiceira que coloca em risco a vida de alguém”, analisou, antes de exemplificar.

    “A policial Kátia não teve sua farda ofendida, mas reagiu a uma tentativa de roubo que colocava ela e outros em situação de perigo. Infelizmente, hoje um delegado da PF (Polícia Federal) não teve a mesma sorte”, disse Samira, citando a morte de Mauro Sérgio Sales Abdo, assassinado em tentativa de assalto à sua casa, no Morumbi, bairro rico de São Paulo.

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