‘O Governo da Bahia deve o funeral do meu filho’

    Em entrevista, Rute Fiuza cobra os governos petistas de Jacques Vagner e Rui Costa pela morte e desaparecimento de seu filho, Davi, 16 anos, em 2014

    Do dia 24 de outubro de 2014 em diante, Rute Fiuza mudou. A fisionomia, o modo de encarar a vida e os objetivos são outros desde o desaparecimento de Davi Fiuza. Aos 16 anos, seu filho sumiu após uma abordagem da PM da Bahia. Rute Fiuza luta por justiça, agora liderando a divisão nordestina do movimento independente Mães de Maio.

    Nestes quatro anos, ela tem mães como parceiras de luto e de luta. Uma delas é Debora Maria da Silva, fundadora das Mães de Maio em 2006, após revide do Estado aos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital). Para Rute, é fundamental que as pessoas não se desanimem em busca de justiça.

    “A família não pode se calar. As pessoas precisam entender que a cultura do medo é antiga e que precisam ser mais fortes, não nos calarmos. Se todos denunciarem, diminui bastante este tipo de ação”, explica a soteropolitana, em entrevista para a Ponte.

    Na semana passada, 17 policiais foram indiciados pela morte e desaparecimento do corpo de Davi Fiuza. Demorou quatro anos para a justiça se aproximar, mas não o fim da dor da perda. Rute lamenta o fato de não ter podido se despedir do filho em um ritual de passagem: o velório.

    “A matéria já não sente mais dor, mas está arraigado em nós enterrar os mortos, são os último momentos terreno. E não pude fazer isso. Não tive luto”, diz, antes de cobrar os responsáveis. “O Estado, o governo do Jacques Vagner, do Rui Costa e do PT (Partido dos Trabalhadores) me devem isso, a mim e outras pessoas: onde estão os corpos dos nossos mortos, dos nossos filhos?”, questiona.

    Segundo o anuário de 2018 divulgado pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança pública), o Brasil registrou o desaparecimento de mais de 82,5 mil pessoas apenas em 2017. Para a fundadora das Mães do Nordeste, um número que traz perfil claro.

    “Essas abordagens e desaparecimentos são na periferia. Entendemos que é um genocídio da população negra. São desaparecimentos com cor, endereço, idade e sexo”, aponta Rute Fiuza.

    Questionada sobre o desaparecimento de Davi e as cobranças de Rute, a SSP-BA (Secretaria da Segurança Pública da Bahia) não se posicionou até a publicação desta reportagem.

    Rute Fiuza cobrou Estado e explicou fundação do Mães de Maio Nordeste | Foto: Reprodução/Facebook

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas