Lázaro Ramos envia livro a Bárbara Querino, jovem negra condenada sem provas

    Após mobilização no Twitter, ator procurou ativista que acompanha o caso de Babiy e anunciou que vai enviar o livro autografado para a jovem

    Lázaro Ramos mandou uma DM para a militante de direitos humanos Andreza Delgado

    A modelo Barbara Querino, a Babiy, 20 anos, está presa no CDP (Centro de Detenção Provisória) Feminino de Franco da Rocha, em São Paulo, depois de ser condenada sem provas por um roubo de carro. Do lado de fora, familiares e amigos lutam para reverter a decisão sobre o caso. Enquanto a justiça não vem, Babiy enviou uma carta para a amiga Mayara Vieira, que administra a página no Facebook “Todos por Babiy”, pedindo alguns livros para que ela possa ler enquanto estiver presa. Na lista, um pedido especial: Na minha pele, do ator Lázaro Ramos.

    Uma mobilização no Twitter nesta quarta-feira (20/9), a partir da iniciativa da ativista Andreza Delgado, que também acompanha o caso de Babiy, deu resultado: segundo Andreza, Lázaro Ramos disse que vai enviar o livro autografado para Bárbara.

    Lázaro é negro como Babiy. Em seu livro, o ator traz experiências pessoais e memórias para tratar de racismo, respeito às diferenças, consciência individual e coletiva, formação de identidade – inclusive a dele, com relação à negritude.

    Capa de livro de memórias de Lázaro Ramos e foto de arquivo de Babiy

    “Ter passado a conviver com pessoas que não refletiam sobre o racismo no seu dia a dia me fez buscar argumentos para inserir esse tema nas conversas. Queria que elas percebessem o que para mim era tão claro. Queria dividir sem medo minha sensação de entrar num restaurante e ser o único negro no lugar. Queria mostrar as riquezas da cultura afro-brasileira, da qual eu tanto me orgulho e que é tantas vezes ignorada”, escreve Lázaro no prólogo.

    Andreza Delgado comemorou nas redes sociais: “Gente eu tô muito feliz. Ontem a noite eu vi a lista de livros na página da Babiy, ela fez um pedido de livros para ler no cárcere. Um deles era do Lázaro. Corri para pedir no twitter, era quase meia noite e a gente pedindo RT na mensagem. Hoje às 5 da manhã ele mandou DM pedindo o endereço para mandar seu livro assinado”. A página Levante Negro também comemorou e compartilhou a notícia: “O Lázaro Ramos é sensacional! A Andreza Delgado foi sensacional pela iniciativa!”

    Mayara conta que tem trocado cartas frequentemente com Babiy, que ela está bem, mantendo-se firme e sabe de toda a mobilização que tem sido feita do lado de fora da prisão para que ela seja libertada. Em uma dessas correspondências é que ela pediu os livros.

    Livros doados para Bárbara Querino | Foto: Facebook/Todos por Babiy

    Além do livro de Lázaro, Babiy pediu títulos de Fernando Pessoa, Freud, Zibia Gasparetto, publicações sobre quilombolas, filosofia e auto-ajuda. No final escreve: “Agradeço desde já toda força e todo apoio. Leitura abre nossas mentes”. Segundo Mayara, o livro deve ser enviado na próxima semana.

    A Ponte procurou Lázaro Ramos, mas até o momento não houve retorno do ator.

    Entenda o caso

    Bárbara Querino entrou na mira da polícia em 4 de novembro do ano passado, quando um de seus irmãos foi preso por roubo de carro – ele admite o crime. Embora Bárbara não tivesse relação com o crime do irmão, foi levada à delegacia e fotografada ilegalmente pela polícia. As imagens da modelo foram parar em páginas de Whatsapp e grupos do Facebook apresentando-a falsamente como membro de uma quadrilha de roubo de automóveis Vítimas de dois roubos, todas brancas, afirmaram tê-la reconhecido, embora nenhum dos reconhecimentos tenha seguido os procedimentos previstos no Código de Processo Penal, como o de colocar o suspeito ao lado pessoas semelhantes.

    Babiy foi detida em 15 de janeiro e permanece presa desde então. Em 10 de agosto de 2018, o juiz Klaus Marouelli Arroyo condenou Bárbara a cinco anos e quatro meses de reclusão por um roubo ocorrido em 10 de setembro do ano passado, na zona sul da cidade de São Paulo. Os depoimentos de duas testemunhas e imagens das redes sociais apontam que, na data do crime, ela estava a 90 quilômetros dali, no Guarujá (SP).

    Bárbara também responde a uma outra acusação de roubo, que ainda não foi julgada.

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