Representantes do movimento Hip Hop se posicionam contra Bolsonaro

    Manifesto ‘Rap pela Democracia’ reúne mais de 200 artistas do movimento Hip Hop contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL); em vídeo, o recado é direto: ‘candidato é ameaça à democracia’

    Mano Brown, Drik Barbosa e Emicida estão entre os participantes do manifesto

    “O rap e a cultura hip hop nasceram de imigrantes jamaicanos radicados no Bronx [EUA], em meio a chineses, latinos e afrodescententes”, defende o rapper Emicida no início do vídeo-manifesto contrário à candidatura do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), lançado nesta quinta-feira (18/10). Na sequência, Rael lembra que “essa cultura se transformou na maior ferramenta de comunicação, expressão e resistência dos nossos”. Mais adiante, o rapper Dexter explica que, por causa da trajetória de tantos representantes do movimento, “é incontestável: o Hip Hop sempre teve lado”.

    Rico Dalasam lembra que o “amor que emana do Hip Hop deu força para pretos, pobres, mulheres e comunidade LGBT”. “Bolsonaro age diretamente contra essas pessoas”, sentencia Drik Barbosa, do Rimas & Melodias.

    Intitulado Rap pela democracia, o manifesto reúne os seguintes nomes do rap e do hip hop, além dos já citados: Rubia (RPW), Guigo (Quebrada Queer), Mano Brown, Djonga, Tássia Reis (Rimas & Melodias), Rappin Hood, Thaíde, Baco Exu do Blues, Rincon Sapiência, BK, Kamau, Marcelo D2, Diomedes, Karol de Souza (Rimas & Melodias), DJ Vivian Marques, Rashid, Bivolt, BNegão, Coruja BC1, Flávio Renegado, GOG, Criolo, Preta Rara, entre outros. O cantor e empresário Evando Fióti e o produtor musical Daniel Ganjaman reuniram mais de 200 pessoas para assinar o manifesto de maneira autônoma em defesa da democracia e contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

    O vídeo traz argumentos para pedir que pessoas que curtem o rap e o movimento do Hip Hop não votem em Bolsonaro e que, portanto, optem pelo candidato Fernando Haddad (PT), relembrando a trajetória desse estilo que, por muitos anos, foi alvo de críticas, além do campo musical, por tratar de um som que “é o grito do excluído, do oprimido, do marginal, do preto, do pobre, do contestador, do sonhador, de quem batalha todo dia e não perde a alegria de viver. O rap é festa, tem ritmo, ginga, mas também tem ideia, tem filosofia e questionamento”.

    Em uma narrativa única, os artistas se revezaram para dar voz ao manifesto realizado de maneira autônoma. “O Brasil é um dos países que mais matam inocentes no mundo. Aqui, as vítimas são em absoluta maioria pretas de periferia”, explica Rincon Sapiência. “Esse cramulhão aí, que não tem nada, nada a ver com Deus, não tá do seu lado, não tá do meu lado, não tá do nosso lado”, critica BNegão.

    Nas redes sociais, o conteúdo tem sido viralizado com a hashtag #RapPelaDemocracia. Além disso, há um site que reúne todo o conteúdo e onde há algumas publicações que tdesmistificam mitos como os que cercam a Lei Rouanet, por exemplo. “Talvez você tenha ouvido em correntes pela internet que os artistas que batem de frente com o candidato apoiador da tortura, Jair Bolsonaro, do PSL, ‘mamam’ nas tetas do Estado por meio de incentivos como a Lei Rouanet. Mas não é bem por aí. Há quem olhe o rap hoje e ache que tudo sempre foi muito fácil, que os maiores palcos do país e as casas mais renomadas sempre estiveram abertas para o gênero musical. Não se engane, o rap nasceu na estação São Bento do metrô, em São Paulo, marginalizado e com a polícia impedindo a tal ‘aglomeração’. Aos poucos ganhou espaço, mostrou sua relevância, alcançou palcos pequenos, rádios comunitárias e por meio do esforço e talento de muitos, hoje é um estilo musical consolidado no Brasil e simplesmente o mais ouvido no planeta”, defende o texto oficial da campanha.

    Na página Rap pela Democracia, eleitores são convidados a aderir a ideia e assinar o manifesto. Até a tarde desta sexta-feira (19/10), mais de 3.200 pessoas tinham assinado.

    O texto dialoga também com eleitores indecisos que podem optar por votar em branco ou nulo. “Também não é aceitável votar nulo ou em branco, pois isso fortalece o candidato que já está em vantagem nas urnas. Votar 17 então é compactuar com um retrocesso gigantesco na jovem democracia que existe no Brasil. Democracia que se encontra em risco, pois o candidato Jair Bolsonaro é ex-militar, a favor da tortura, tem como ídolo um coronel conhecido como líder da tortura realizada na época da ditadura instaurada no país, que pensa que a solução para os problemas está em armar a população ao invés de investir na educação e ainda possui um vice que defende o fim do 13º salário, entre tantas outras declarações antidemocráticas”.

    No vídeo, os artistas defendem os motivos para não votar no candidato do PSL, acusado de apologia à tortura e de inflamar o discurso de ódio contra mulheres, negros e LGBTs.  Completando o vídeo, o texto se encerra falando da importância do amor prevalecer ao ódio. “Avançamos como sociedade apenas quando tivermos a possibilidade de dialogar, de expressarmos nossas ideias sem medo de repressão, sem punição descabida, sem preconceitos, e com certeza tendo mais investimento em educação, que traz conhecimento e pensamento crítico. Que o amor seja mais forte do que o ódio e o revanchismo. Não podemos aceitar nem mais um passo atrás. O rap é pra frente e sempre será”.

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