De dentro de um carro, dupla xingou e cuspiu em grupo de juristas que havia participado de encontro em defesa da democracia, na zona sul de SP
Um grupo de pessoas que havia participado de um ato ligado ao lançamento de uma manifesto assinado por mais de mil juristas, Todas e Todas pela Democracia, com Haddad, nesta quinta-feira (18/10), na zona sul de São Paulo, foi atacado por duas mulheres de dentro de um carro. As duas xingaram, fizeram gestos obscenos e até lançaram cuspes. Uma das pessoas que estava no grupo é José Carlos Dias, que foi ministro de Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso, além de alguns jornalistas que tinham ido fazer a cobertura do evento.
Dias tem em sua biografia a defesa dos direitos humanos. Atuou na libertação de presos políticos, no combate à ditadura militar e participou da Comissão Nacional da Verdade. Em 1977, foi um dos articuladores do movimento liderado pelo professor Gofredo da Silva Teles que resultou na Carta aos Brasileiros, manifesto pela democratização do país, além de ter participado ativamente do movimento Diretas Já!.
Descontroladas, as mulheres fizeram gestos obscenos, falaram palavras como “demônio”, “filhos da puta”, “vocês roubaram o Brasil”. Uma delas começou então a cuspir em direção ao grupo. Um repórter do Estadão, que também registrou a cena, teve que se desviar das cusparadas.
A filha do ex-ministro, a advogada e diretora executiva do IDDD (Instituto de Defesa do Direito à Defesa) Marina Dias Werneck, que também estava no local, ao lado do pai, registrou as agressões pelo celular e postou nas redes sociais. Em entrevista à Ponte, Marina afirma que a atitude das duas mulheres foi bastante simbólica pela brutalidade e violência que representam. “Eu estava com meu pai e com meu filho. Foi muito simbólico como representação desse lugar da intolerância, de tanto desrespeito, de tanto ódio. E o detalhe é que tínhamos saído de um ato onde se falava de princípios tao basilares de convivência, de respeito, de diversidade. De repente, você se depara com duas pessoas que não te conhecem e simplesmente começam a cuspir em você porque você defende um candidato que elas depositam tudo que mais odeiam no mundo. É brutal”, afirma. “E é importante destacar que esse tipo de atitude tem muito a ver com o quanto a candidatura do Bolsonaro representa a apologia a tudo isso: a discriminação, a violência, a falta de diversidade”, pontua.
No evento, o ex-ministro José Carlos Dias defendeu a democracia, declarou apoio ao candidato Fernando Haddad e chegou a dizer que só o candidato da extrema direita para fazê-lo votar no PT. “Bolsonaro é um perigo imenso para o Brasil. Este homem é um crápula”, declarou Dias, segundo reportagem do Estadão
Ainda assim, Marina não acredita que tenha sido esse o motivo, até porque as declarações tinham acontecido algumas horas antes. “Não sei se reconheceram, acho que não. A gente estava saindo do manifesto naquele momento, esperando o táxi. Acredito que elas viram a movimentação e por causa de broches, eu mesma estava com um broche do Haddad, decidiram ofender. Foi uma agressão que começou do nada, tanto que demorou para ‘cair a ficha’ do que estava acontecendo. Era um nível de ódio, como se fosse algo vindo do fígado, sabe? Cuspiram de raiva, uma coisa muito louca”, relatou a advogada.
Marina Dias Werneck se demonstrou bastante preocupada com o ocorrido, por, segundo ela, ter sentido na pele o que tem ouvido de amigos próximos desde o fim do primeiro turno. E, a exemplo do pai, critica Bolsonaro. “Se você tem uma liderança que tem esse discurso, de naturalidade da barbárie, que acredita que na violência como instrumento de lidar com os conflitos, que defende a tortura, as pessoas que o admiram seguem nessa mesma linha. E o pior, estão se sentindo absolutamente legitimadas nesse lugar”, conclui.