Estudante foi atingido ao tentar apartar agressão de grupo de 6 pessoas contra colega que entregava panfletos; policiais teriam dito que ir à delegacia “não daria em nada”
Um estudante do curso de História da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) foi perseguido e agredido com uma barra de ferro enquanto fazia panfletagem na Praça Lauro Muller, na região de Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, na noite da última sexta-feira (19/10).
De acordo com a vítima, João*, de 23 anos, ele e mais um grupo de universitários estavam entregando panfletos no local por volta das 19h quando um dos amigos, Luciano*, começou a ouvir ameaças pelos arredores. “Ouvi umas pessoas gritando ‘vai morrer’, ‘vai morrer’, mas eu não imaginei que fosse comigo”, conta.
Luciano*, que é branco, afirma que foi retrucar um dos agressores, que “não respondeu e veio pra cima de mim dizendo pra nós irmos embora, colocando a mão na cintura dizendo que ia matar eu e meus amigos”. Logo em seguida, ele recebeu um soco nas costas.
João*, que tentou intervir, foi perseguido e agredido com uma barra de ferro na cabeça, que lhe deixou com um olho roxo e outras escoriações. “Eu fiquei tonto com a pancada e cai no chão, mas eles não pararam. Só parou quando começou a juntar uma multidão e a polícia foi chamada”, lembra. Para João*, os agressores foram mais violentos por ele ser negro. “Eles já chegaram comigo na agressão, com os outros colegas brancos não”.
Os universitários afirmam que acionaram policiais militares, enquanto aguardavam a chegada da ambulância. No entanto, segundo eles, os agentes se negaram a atender a ocorrência.
“O policial disse pra mim que entendia minha raiva e tinha uma filha, mas que nós tínhamos que ser espertos” disse uma das estudantes. “Ele ainda disse ‘vocês têm que tomar muito cuidado porque nós por enquanto estamos do lado de vocês, mas a gente não sabe como vai ser amanhã’”.
João* afirma que os agentes ainda disseram que ir até a delegacia “não daria em nada e a cara de vocês vai ficar marcada aqui na área”.
O grupo ainda pensa se vai prestar queixa, já que teme represálias.
João* foi socorrido ao Hospital Municipal Souza Aguiar e liberado na manhã de sábado (20/10).
A Ponte procurou a SESEG (Secretaria de Segurança Pública) do Rio sobre as acusações sobre a atuação dos agentes. A pasta informou que a assessoria de imprensa da Polícia Militar deveria ser procurada. Esta, por sua vez, declarou que “qualquer irregularidade na atuação de agentes deve ser enviada para a Corregedoria”. A reportagem procurou a Corregedoria e até a publicação não teve resposta.
*Os nomes foram alterados a pedido das vítimas, que temem represálias.