Ato contou com a participação de aproximadamente 7 mil pessoas, que também se uniram em defesa de direitos como a educação e a aposentadoria
Aproximadamente 7 mil pessoas foram às ruas para protestar contra o racismo, a violência, a fome e a precarização do trabalho e da saúde pública na quarta edição da marcha das mulheres negras.
O ato “Por nós, por todas nós, pelo bem viver” aconteceu nesta quinta-feira (25/7), Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, no centro de São Paulo.
De acordo com Rosangela Martins, da Uneafro Brasil, a marcha é pelo bem viver das mulheres negras, grupo que tem se destacado à frente de lutas sociais e políticas.
“Por muito tempo a nossa voz não foi ouvida, mas hoje ela tem potencial para isso. Trouxemos mulheres jovens, experientes, de terreiro, da academia e do quilombo para ocupar todos os espaços”, conta.
As mulheres negras também se uniram contra os cortes do Ministério da Educação (MEC) na verba da educação básica e superior.
“Somos as mais afetadas por esses cortes do governo, principalmente agora que começamos a ter mais acesso às universidades”, sustenta Cinthia Gomes, integrante da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (COJIRA) e articuladora da marcha.
A concentração começou às 17h na Praça da República e foi marcada por palavras de ordem das mulheres negras de diversos coletivos que formam a marcha. O ato não teve início na Praça Roosevelt, como nas edições anteriores, porque o número de adeptos à marcha cresceu e a região não comportava mais a concentração de manifestantes.
A partir das 19h, o protesto seguiu pelas ruas da região central e, em frente à biblioteca Mário de Andrade, poetas negras como Luana Hansen e Ingrid Martins fizeram uma homenagem à escritora Tula Pilar, que faleceu em abril em decorrência de uma parada cardíaca.
“Fizemos um grande sarau para celebrar a vida de Tula Pilar, que participava da marcha das mulheres negras e tem uma história marcada pelas desigualdades de raça e de gênero”, conta Juliana Gonçalves, jornalista e articuladora do ato.
A mobilização terminou no Largo do Paissandu, em frente a igreja Nossa Senhora dos Homens Pretos, com uma roda de capoeira.
Cinthia Gomes lembra que a organização do protesto é feita de forma autônoma, sem nenhum financiamento por parte do governo, de partidos políticos ou de empresas privadas.
“Como a situação política que vivemos é melhor compreendida fora do país, nós conseguimos apoio de um fundo internacional para realizar a marcha com estruturas mínimas”, relata.
Ela afirma ainda que a construção do ato desperta um laço afetivo importante entre as mulheres negras que o constroem. “Nós criamos uma irmandade nesse processo, pois apesar de sermos diversas temos uma luta em comum”, finaliza uma das idealizadoras da marcha.
Reportagem publicada originalmente no Alma Preta