Em visita ao Brasil para lançar ‘Pensamento Feminista Negro’, escrito em 1990 e traduzido apenas agora, socióloga afirma: ‘Acredito no poder das ideias’
“Eu sou uma pessoa que acredita no poder das ideias”. É assim que a socióloga norte-americana Patricia Hill Collins inicia a conversa com a equipe da Ponte. O encontro com Patricia ocorreu no Sesc Pinheiros, na capital paulistana, na semana em que ela participou do Seminário Internacional Democracia em Colapso?, evento realizado pelo Sesc São Paulo e pela Editora Boitempo entre 14 e 19 de outubro. Patricia veio para marcar o lançamento da primeira tradução para o português do livro “Pensamento Feminista Negro”, obra ícone da autora, lançada nos Estados Unidos em 1990.
Com a fala calma e pausada, e um largo sorriso no rosto, ela ativou as lembranças e falou sobre a importância que os pais tiveram na forma com que vê o mundo e em como conduziu sua trajetória intelectual. “Meus pais me ensinaram a ser gentil com todas as pessoas e dar a elas a possibilidade de serem o melhor que puderem. Inclusive as pessoas brancas”, afirma Patricia. São cinco décadas dedicadas à reflexão sobre as questões do feminismo negro. Formada pela Universidade de Brandeis, tem mestrado em Harvard e doutorado em Brandeis. Foi a primeira mulher negra a presidir a Associação Americana de Sociologia.
Nascida na Philadelfia, filha única de um operário e uma secretária, Patricia foi a primeira de sua família a se graduar. “Felizmente não serei a última a me graduar”, comemora. Durante a conversa, essa intelectual que entrou para a história dos estudos afro-americanos como a organizadora da primeira obra que compila o pensamento relativo às questões do feminino negro refletiu sobre diversas questões da contemporaneidade. Acostumada a pautar suas reflexões em bases teóricas bem fundamentadas, uma das perguntas que Patricia lançou para a plateia presente no Sesc Pompeia remete ao simples, que quase sempre é o mais complicado de enxergar: Como seguir caminhando em tempos tão difíceis?
Para Patricia, o caminho é reforçar as redes de apoio e reforçar as táticas para tornar possível a política da sobrevivência, porque, como ela mesma diz, primeiro é preciso estar vivo. Por isso que, para a professora, o primeiro ponto do feminismo negro é a esperança. “Sem acreditarmos no amanhã não é possível prosseguir”. Sobre a ascensão da direita no mundo, de quem o presidente norte-americano, Donald Trump, e o brasileiro, Jair Bolsonaro, são representantes, afirma com tranquilidade: “Eles não vão vencer. Demore o tempo que for, eles não vão vencer”.