Governador cede à pressão e recebe representantes de protesto contra massacre em baile funk; PM chegou a proibir manifestantes de se aproximarem do Palácio
O resultado de luta, lágrimas e da pressão feita por manifestantes que protestavam contra o massacre de Paraisópolis, que deixou nove mortos no domingo (1º/12), foi uma reunião com o governador João Doria (PSDB) na noite desta quarta-feira (4/12) e a criação de uma comissão para acompanhar as investigações sobre as mortes. Depois de horas protestando e insistindo, representantes da família e da sociedade se reuniram e ouviram promessas por parte do tucano.
O encontro definiu a criação de um comitê externo para acompanhar as investigações das mortes das nove pessoas, pisoteadas em decorrência de uma ação da PM paulista no Baile da DZ7, encontro de funk que acontece na comunidade. Ao todo, 13 pessoas formação o coletivo: um representante de cada família de vítima, um membro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humano), um da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e dois de associações de moradores de Paraisópolis.
Para Danilo Amílcar, irmão de Denys Henrique Quirino da Silva, 16 anos, um dos mortos, a sensação que fica é de impotência. “É difícil estar satisfeito justamente porque a gente só conseguiu se reunir com o governador depois de horas de manifestação, de horas de cansaço, quando as mortes já aconteceram. Isso deveria ter acontecido antes por iniciativa do governador”, desabafou Amílcar, às 22h, em frente ao Palácio dos Bandeirantes, logo em seguida ao fim do encontro.
Após quase duas horas de caminhada de Paraisópolis até o Palácio dos Bandeirantes, onde fica a sede do governo paulista, Danilo e outros familiares ainda tiveram que dialogar por mais uma hora com representantes do governo para, só então, serem recebidos por Doria. “Foi uma luta para ter a pessoa dele na reunião. No limite, eles quiseram enrolar a gente com o secretário dele. Ele, sendo chefe político eleito, precisa ouvir a população”, define. “Queríamos que ele ouvisse todas as famílias, não só a nossa, mas todas as famílias que tiveram suas vidas massacradas em Paraisópolis”, afirmou na saída da reunião.
Representante do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humano), Dimitri Sales explica que o grupo acompanhará investigações da Polícia Civil, da Corregedoria da Polícia Militar e do Ministério Público. Uma nova reunião acontecerá às 18h da próxima segunda-feira (9/12). “Acompanharemos laudos, perícias… Sem dúvida, as famílias poderem acompanhar as investigações, poderem questionar os laudos, apresentar suas dúvidas para que se possa elucidar e chegar aos responsáveis, é fundamental”, avalia Sales.
De acordo com Amílcar, o governador João Doria ainda se comprometeu a garantir a “paz” na comunidade. “O governador se comprometeu com que a polícia não vai agredir na comunidade, não terá retaliação. Ele teve esse compromisso de que o estado garanta a paz na comunidade e vamos esperar e lutar por isso”, prosseguiu o irmão de Denys Henrique.
Protesto bloqueado
Mais de 500 pessoas se concentraram por volta das 17h no acesso da Viela Três Corações, na Rua Ernest Renan, onde aconteceram a maior parte das nove mortes. Após um discurso de Danilo e comoção entre os familiares, o grupo de moradores iniciou uma caminhada pela Avenida Hebe Camargo até a Avenida Morumbi, local onde fica o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
Muito emocionado, Danilo, irmão de Denys Henrique, foi um dos primeiros a falar, logo no início do protesto, ainda em Paraisópolis. “Nós exigimos a punição dos responsáveis. Nós entendemos que o que aconteceu aqui não foi uma fatalidade, não foi se querer, não foi pisoteamento. Queremos que todos os responsáveis sejam investigados, desde os que estavam aqui até os que mandaram. O governador tem responsabilidade quando diz que a política de segurança dele é essa e está dando certo”, desabafou sob gritos de “justiça”.
Durante o trajeto, palavras de ordem eram proferidas pelos manifestantes responsabilizando Doria e a PM pelo ocorrido. “Doria, a culpa é sua. A luta continua”, aparecia em cartazes e na boca dos participantes. “Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da polícia militar”, esse um coro comum em protestos contra a violência policial, também foi frequente.
Quando chegaram 200 metros distante da entrada do palácio, uma pequena tropa da PM impediu que os manifestantes continuassem até a frente da sede do governo paulista. O comando da operação que acompanhava o ato era de responsabilidade do capitão da PM Rafael Telhada, o Telhadinha, filho do coronel Paulo Telhada, deputado estadual por São Paulo, integrante da Bancada da Bala e ex-integrante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).
Diante da barreira policial, um morador de Paraisópolis, sentado ao lado de um amigo, criticou a forma com que a polícia trata quem vive na quebrada. “Se fosse um filho seu morto no baile, você estaria como hoje? Apertando a mão de quem matou seu filho, sua filha, ou sobrinha? E agora não podemos usar nossa voz? Vocês gostam de oprimir. Vocês dão tapa na minha cara e me chamam de vagabundo, safado”, gritou, sob aplausos.
“A ficha ainda não caiu. Eu não consigo entender até agora o que aconteceu. Me perco nos pensamentos, não consigo me conformar e nem sentir totalmente a perda”, desabafou uma tia de Gustavo Cruz Xavier, 14 anos, o mais jovem entre as vítimas. A mulher, que preferiu não se identificar, se mostrava desesperançosa com a reunião dos familiares com Doria. “O que você acha que ele está falando para eles?”, questionou à reportagem. “Espero que não esteja só fazendo média”, respondeu a mulher em seguida.
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