Em reunião com familiares dos 9 mortos no baile da DZ7, governador prometeu afastar mais 32 policiais; medida não afeta salários dos PMs suspeitos
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), prometeu afastar 32 policiais militares envolvidos no massacre de Paraisópolis, quando nove pessoas morreram. Inicialmente, o governo determinou o afastamento de seis PMs, que passaram a atuar em serviços administrativos, mantendo seus salários normalmente.
A decisão aconteceu depois da reivindicação das famílias das vítimas durante uma reunião no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, na noite desta segunda-feira (9/12). Pela segunda vez em uma semana, Doria recebeu os parentes para ouvir suas demandas, mas não apresentou novidades sobre as investigações.
“Não tinha cabimento seis levarem a culpa dos 38. Expus que se seis são chamados de culpados, por que esses 32 não agiram e impediram esse massacre, já que eram seis afastados? É algo que fica no ar”, explicou Reinaldo de Morais, pai do Gabriel Rogério de Morais, 20 anos, seu único filho.
As nove pessoas morreram durante atuação da PM no Baile Funk da DZ7, que ocorre dentro da favela. Segundo a versão oficial, seis PMs da Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas) perseguiram uma moto com suspeitos, que furaram um bloqueio, entraram no baile e atiraram nos policiais. Os PMs reagiram com bombas e as cerca de 5 mil pessoas correram, o que provocou o pisoteamento.
Esses seis PMs tiveram o afastamento determinado logo após o massacre. No entanto, os familiares cobravam que os demais 32 policiais também deixassem o serviço de rua, o que foi prometido pelo governador.
“Entendemos que eles estando na rua poderia acontecer qualquer coisa. Se mataram ou espancaram, poderiam continuar fazendo as mesmas coisas. Afastar das ruas era o mínimo que poderia acontecer”, resumiu Danylo Amílcar, irmão de Denys Henrique, 16 anos.
“Estamos aqui por justiça, então vamos ser justos. Os 38 estavam envolvidos então os 38 têm que se afastados até apuração de todos os fatos. Quem garante que só os seis afastados são os culpados?”, questiona Maria Cristina Quirino, mãe de Denys. “Paz eu não tenho desde que meu filho foi sepultado, mas isso me traz tranquilidade”, emenda.
Segundo os parentes, a reunião contou com Doria e também o secretário da Segurança Pública de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos. No entanto, ele não deu detalhes da investigação para apurar as causas da morte e possíveis abusos ou falhas cometidas pelos PMs em Paraisópolis.
“O objetivo da reunião era que o governador prestasse o mínimo de informações. Queremos ouvir respostas, não só condolências”, cobrou Danylo. “Queríamos que o secretário participasse de uma audiência pública explicando o que aconteceu, apresentando a versão oficial. Pedimos na reunião que o general Campos possa prestar esclarecimentos sobre o que aconteceu na ação”, disse.
Segundo representantes do estado, ainda é prematuro repassar informações da investigação para as famílias e a imprensa. “É muito pouco tempo, estamos em fase de colher depoimentos, escutar. Não tenho acompanhado diretamente o inquérito. Mas no momento: rigor, rapidez e transparência”, resumiu a procuradora-geral do estado de SP, Lia Porto Corona.
Além da reunião no Palácio dos Bandeirantes, representantes do governo do estado e da prefeitura de São Paulo estiveram em Paraisópolis para ouvir as demandas da população. Ficou estipulado a criação de seis grupos de trabalho para identificar questões a serem melhoradas.
Nos próximos dez dias, representantes do poder público e de Paraisópolis debaterão sobre o que poderá ser feito em seis áreas específicas: educação, desenvolvimento social, cultura, habitação e infraestrutura, saúde, primeira infância e emprego e empreendedorismo. “O olhar aqui não é de governo, é de comunidade. Precisamos ouvir e entender como conseguimos estruturar programas de governo que atendam essas demandas”, explicou Patrícia Ellen da Silva, secretária estadual de Desenvolvimento Social.
Um dos pedidos da população de Paraisópolis é a criação de uma subprefeitura que englobe a comunidade e o bairro do Morumbi. O pedido surgiu de reunião feita com representantes dos moradores do bairro rico, realizada antes do encontro com os 15 secretários municipais e estaduais presentes na favela.
“Paraisópolis está no momento de resgatar os seus sonhos, de construção de uma nova Paraisópolis e diante dessa tragédia a melhor resposta que se dá é a presença. Não adianta o abraço e solidariedade de longe”, afirmou Gilson Rodrigues, presidente da Associação de Moradores e Comerciantes de Paraisópolis.