Ponte lança campanha para receber vídeos de abusos policiais; entenda como se proteger ao filmar as ações com dicas da Witness Brasil
A Ponte lança campanha para receber vídeos de abusos policiais. Basta enviar a filmagem para o WhatsApp (11) 9 8508-8303. Para não colocar você em risco, separamos algumas dicas de como filmar os abusos, feitas pela Witness Brasil, organização internacional que treina e apoia pessoas usando vídeo em prol dos direitos humanos.
O tutorial para filmar abusos policiais contém nove passos. Separamos alguns pontos para que você consiga enviar os vídeos para a Ponte com segurança.
A primeira dica é estar seguro: se você não se sentir seguro, não filme. Antes de ligar a câmera, é importante avaliar todos os riscos para você e para as pessoas que você pretende filmar, analisar o cenário sempre considerando se mais pessoas estão acompanhando a sua ação. O item dois é manter o celular na horizontal e não mexer muito durante a gravação.
O terceiro ponto destacado pelo tutorial é um dos mais importantes: se atende aos detalhes. Se for possível, grave identificação do policial, rosto, numeração e placa das viaturas. Cápsulas, armas e símbolos de patentes também devem ser filmadas. Mas garanta que outra pessoa olhe ao redor enquanto você grava para avisar de possíveis riscos.
Outra dica importante, que é o quarto da lista, é registrar hora e local do fato. Sem pausar o vídeo, filme placas de ruas e relógios (de pulso ou de parede). Uma alternativa é narrar essas informações com a sua voz. Um exemplo: “Estou aqui às 4 horas da tarde, do dia 2 de dezembro de 2016, na rua Canitar número 4”. Evite falar coisas que você não tem certeza, fale apenas o que você consegue ver e provar.
Buscar informações complementares também é um dos pontos citados pelo tutorial, como documentos da vítima, marcas de disparos em paredes próximas, alguma matéria de imprensa que cita o caso e, quem sabe, conversar com alguma testemunha – nesse caso é importante cobrir o resto da pessoa.
Sempre que possível chame outras pessoas para filmar com você. Quanto mais pessoas filmando, mais difícil perder o registro e isso dificulta, também, perseguições policiais.
Não se esqueça que é seu direito filmar as ações (baixe o documento completo aqui). A Constituição brasileira garante que você possa fotografar policiais em espaços públicos e que nenhum policial obrigue você a parar de filmar ou apagar as imagens.
Em entrevista à Ponte, Victor Ribeiro, coordenador da Witness no Brasil, explica que o vídeo se tornou um dos últimos recursos para as pessoas poderem defender direitos.
“O vídeo é a ferramenta fundamental nesses tempos em que a gente vive para que se possa denunciar, documentar e defender direitos, não só em uma perspectiva de construir uma disputa narrativa, construindo outras versões dos fatos e da história, mas também promovendo uma documentação de uso concreto, como por exemplo esse uso jurídico do vídeo”, argumenta Ribeiro.
Victor argumenta que o autor do vídeo se cola imediatamente na mesma vulnerabilidade daquelas pessoas que estão sofrendo o abuso, porque a polícia obviamente não quer ser retratada e documentada em práticas ilícitas.
“Ameaças e agressões são uma estratégia de coibir cada vez mais a prática de gravação por parte da população, que legitimamente se levanta para documentar a ação do estado através das forças policiais”, explica o coordenador.
“Por isso os cuidados de segurança são diversos. O que tentamos disseminar são recursos iniciais e protocolos básicos de vídeo como prova jurídica e também de segurança digital”, finaliza Ribeiro.
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