Três meninos estavam fora da estação da CPTM pedindo leite, bolacha e uns trocados para comprar bilhete da passagem

Um adolescente negro de 14 anos foi agredido por um segurança da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), por volta das 19h20 desta terça-feira (4/2), de acordo com passageiras que estavam na estação Granja Julieta, na zona sul da cidade de São Paulo.
“A gente pagou a passagem e, quando passamos pela catraca, o segurança deu um murro no olho do meu amigo”, disse à Ponte uma criança de 12 anos que estava junto com o jovem.
Segundo passageiras ouvidas pela reportagem, três meninos estavam fora da estação pedindo leite, bolacha e uns trocados para comprar bilhete da passagem. “Um moço que estava com a gente disse que os meninos pediram dinheiro, comparam a passagem e subiram [para a catraca]”, declarou a auxiliar administrativo Gabrielly Marcelino, de 20 anos.
“Não havia nenhum relato de que eles estariam roubando, mas parece que passou uma moça dizendo que eles estavam roubando e disse para [os seguranças] ficarem de olho neles [nos meninos]. Só que eles pagaram a passagem e subiram. Do nada deram um tapa [no adolescente]. Não tem porquê desse tapa. São crianças negras, aparentemente pobres que estavam sozinhas”, prossegue.
A estudante Camila Couto, 22 anos, conta que também voltou à plataforma, no sentido Grajaú, quando ouviu uma gritaria. “Quando eu vi, o segurança estava agarrando o menino. Uma menina tentou ir pra cima para intervir e a gente tentou afastar ele das crianças”, afirma. “O segurança querendo pedir meu documento e eu disse ‘você não pode pedir documento'”.
Outra passageira, que pediu para não ser identificada, relatou que o murro foi tão forte que “o menino caiu no chão”. “Várias pessoas ficaram chocadas com o que aconteceu e o segurança falando que eles estavam furtando, só que a gente não queria saber o que eles teriam feito, a gente queria discutir sobre a agressão”, declarou.
De acordo com elas, os meninos estavam com medo e entraram no trem. “O segurança querendo entrar para ir atrás deles e a gente tentando impedir segurando a porta”, conta Camila. “Em um dos momentos, ele xingou a gente chamando de galinha, para jogar o milho para as galinhas”.
Gabrielly conta que o segurança ainda xingou os passageiros e tentou coagir um rapaz que teria ido avisar outros funcionários sobre o que estava acontecendo e que estaria filmando a ação. “O segurança tentou agredir ele, pedindo documento, o rapaz foi embora da estação com muito medo”.
Camila afirma que ainda acompanhou os meninos até a estação Grajaú. “Eles não queriam chamar os pais porque um deles disse que cabulou aula para conseguir leite e ele estava mesmo com uma sacolinha”, disse.
As testemunhas disseram que procuraram outros funcionários da CPTM na estação para denunciar o ocorrido. “Tinha uns chamando a gente de ‘advogadas dos meninos que roubaram’ de uma forma muito pejorativa e eu disse que era uma testemunha”, disse uma das passageiras.
“Muita gente veio conversar tentando justificar a agressão, de que eles estavam pedindo, dizendo que tinham furtado e a gente disse que não”, afirma a passageira.
A Ponte procurou a assessoria de imprensa da CPTM e aguarda um posicionamento.
