Cumplicidades

    A lamentável conclusão de que Alckmin e Haddad convergem no silêncio, no desprezo e na incompreensão sobre o que dizem as ruas

    Por Esther Solano Gallego

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    Policiamento no segundo ato contra a tarifa. Foto: Rafael Bonifácio /Ponte Jornalismo

    Ontem, novo protesto. De novo detidos, medo, bombas, desta vez na estação Belém do Metrô de São Paulo.

    Dois anos depois das manifestações de 2013, o poder público volta a erros idênticos, como uma reprise patética e de péssimo gosto.

    A mesma violência. A mesma fórmula que, longe de desgastada ou estéril, está com mais vigor e disposição que nunca: “coloquem a polícia na rua”. As mesmas figuras políticas escondidas atrás dos policias. A mesma insensibilidade dos senhores feudais.

    Pergunto-me, já no desespero, como é possível que governador e prefeito acreditem que as manifestações pelo aumento da passagem são “problemas resolvíveis” na base da bala de borracha e bombas de gás? É obvio que de Alckmin não venha uma atitude comunicativa com os movimentos sociais. Não decepciona de quem nada se espera. Infelizmente, o PT está chegando a essa mesma posição indigna. Pouco decepciona porque já pouco se espera dele. Depois de escutar as últimas declarações de Haddad sobre o MPL, seus silêncios coniventes, chego à lamentável conclusão de que Alckmin e Haddad, PSDB e PT, convergem demais na sua atitude de desprezo e incompreensão perante a situação imposta pelas ruas.

    Sabemos que o MPL não é um coletivo fácil de lidar. Talvez, eles também sejam reféns dessa intolerância que impede a interlocução, que nega ao outro o diálogo. Chegados a esse ponto crítico de negociações nulas e protestos contínuos com vítimas e feridos, espera-se do poder público uma mínima capacidade imaginativa de gestão, para além do monótono “coloquem a polícia na rua”. Espera-se uma mínima capacidade resolutiva que não transforme, de novo, pelos séculos dos séculos, um problema social numa questão de polícia.

    Somos uma sociedade que não aprende? Temos um poder que não aprende, que continua cometendo, obcecadamente, os mesmos erros?

    Virão mais manifestações. Sem necessidade de cartomante, pouco me arrisco ao prever que na maioria delas teremos uma intensa presença policial, depredação, feridos, detidos e – tomara que não -, algo mais grave.

    A violência vai ser sempre a conclusão?

    As ordens virão do Governo do Estado. A cumplicidade, da Prefeitura.

    Esther Solano Gallego é Professora da Universidade Federal de São Paulo e coautora do livro “Mascarados: a verdadeira história dos adeptos da tática Black Bloc” (Geração Editorial)

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