Artistas negros denunciam MC Livinho por racismo e agressão

    Cantor MC Gerex e modelo Raielli Leon usaram as redes sociais para contar os casos que sofreram; funkeiro nega e diz ser “contra o preconceito”

    Gerex (esq.) denuncia agressão de Livinho (centro) e Raielli (dir.) conta ter sido alvo de racismo | Fotos: Reprodução

    O funkeiro MC Livinho, 25 anos, é alvo de denúncias de racismo e agressão por dois artistas negros que trabalharam com ele. A modelo Raielli Leon revelou um ato de racismo ocorrido em 2017 e MC Gerex denunciou ter sido agredido pelo cantor no ano passado. Os casos aconteceram em um intervalo de dois anos, mas vieram à tona apenas agora, em vídeos divulgados pelas vítimas nas redes sociais nos dias 2, 6 e 7 de junho.

    No Instagram, MC Gerex, 30, contou que foi agredido pelo cantor em 24 de agosto de 2019, dia em que fizeram um show na cidade de Indaiatuba, interior de São Paulo.

    À Ponte, Gerex detalhou que a agressão aconteceu dentro do camarim quando Livinho o chamou para uma conversa particular. “Falou que não queria trabalhar mais comigo, eu agradeci. Depois disse que eu não era homem, que tinha falado mal da namorada dele. E eu disse para ele falar a verdade uma vez só”, afirma o funkeiro.

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    Segundo Gerex, nesse momento Livinho deu três socos: um de baixo para cima e dois em sua bochecha esquerda. Ele explica que Livinho teria organizado uma festa com mulheres, mas sua namorada havia descoberto e, por conta disso, teria ficado incomodado. “E colocou a culpa em mim”, diz.

    O ex-parceiro musical de Livinho postou dois vídeos em seu perfil no Instagram explicando a história. Também publicou imagens que teriam sido gravadas logo após a agressão.

    Gerex mostra a boca cortada e sangrando após soco de Livinho | Foto: Reprodução/Instagram

    “Acabando de sair daqui de Indaiatuba. Não falei nada para o cara e ele me agrediu na frente de todo mundo. Livinho me agrediu por nada. Nunca fiz nada!”, desabafou MC Gerex.

    Na oportunidade, ainda declarou que ganhava R$ 1,5 mil e que o cantor “sempre agrediu todo mundo da equipe”. À Ponte, detalha que demorou a denunciar o caso por pressão da GR6, empresa que era contratado e que tem Livinho como sócio.

    “Os caras não davam suporte. Depois que fiz o vídeo, tomaram meu celular na intenção de ofuscar, não ter prova nenhuma. Eu tinha áudio”, relembra, dizendo ter recebido contato da empresa depois de ter denunciado a agressão.

    MC Gerex e Livinho cantam durante apresentação | Foto: Reprodução/Instagram

    “Ligaram quando soltei o vídeo. Disseram que eu expus todo mundo, para pensar bem, que sou um talento… Fiquei 2 anos trabalhando na GR6 e prometem tudo agora?”, diz o cantor.

    Gerex morava em São Paulo por conta do trabalho. Segundo ele, era recorrente ter atrasos em pagamentos, o que o fez se mudar para a Favela do Murão, no Jardim Brasil, zona norte da cidade de São Paulo.

    Depois do caso em Indaiatuba, o MC teria sido forçado a assinar rescisão. Quando chegou em Bauru, cidade no interior de São Paulo onde moram seus pais, registrou a ocorrência da agressão.

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    O advogado Sérgio Furlan Júnior, que representa o MC Gerex, explica que o caso foi registrado em novembro, mas que só teve andamento em fevereiro. Por conta da pandemia, diz, ainda não foi possível prestar depoimento.

    “Vamos ingressar com ação por danos morais. A lesão não pode passar em vão. Livinho tem histórico agressivo muito grande”, afirma o defensor.

    Além de Gerex, uma artista negra denunciou Livinho nas redes sociais. Em 2 de junho, a modelo e dançarina Raielli Leon detalhou o caso vivido com Livinho durante a participação de um clipe em 2017.

    A denúncia foi feita no Instagram após Raielli ver uma publicação no perfil dele em apoio à campanha Vidas Negras Importam, que ganhou força após o assassinato do americano George Floyd, em 25 de maio por um policial branco que ficou com o joelho em seu pescoço por mais de 8 minutos.

    Raielli explicou que trabalhava como dançarina em um clipe quando Livinho se aproximou. Antes disso, ele já havia feito “umas dancinhas idiotas, obscenas, pegando no saco”. Ela diz que já tinha ficado incomodada por ele ter olhado “torto o clipe inteiro” em sua direção.

    “Ele tirou o celular do bolso, colocou no meu cabelo, puxou e falou: ‘você roubou meu celular, cabelo’. Nesse mesmo momento, todo mundo que estava por perto, riu. Ele repetiu a brincadeira por mais duas vezes”, relembra.

    Segundo a modelo, ela pediu para que Livinho parasse com a brincadeira e que se desculpasse. “Sabe o que ele fez? Me xingou de todos os nomes possíveis, falou que ia acabar com a minha carreira, que eu deveria ter medo do que eu estava falando e com quem eu estava brincando”, afirma.

    Após a fala de Raielli, Livinho publicou um vídeo em suas redes sociais, criticando a modelo por tê-lo atacado. “Por que a mina não tá levando a bandeira do movimento dela e ela tá jogando uma situação que já foi resolvida?”, afirmou. “Só me responde isso. Não vou tirar meu bagulho aqui, porque eu sou contra o racismo, contra o preconceito, tanto que já sofri e sofro”, disse, sobre a postagem Vidas Negras Importam.

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    A Ponte procurou a GR6 para solicitar posicionamento da empresa e de Livinho sobre as acusações de agressão feitas por Gerex e pelo relato de racismo revelado por Raielli. No entanto, não recebemos resposta até a publicação desta reportagem.

    Ao G1, a assessoria de imprensa do cantor explicou que ele pediu desculpas à modelo na época. “Ressaltamos que o artista se desculpou na ocasião, e voltou a se desculpar através de mensagens em seu Instagram na noite de ontem [na noite de terça-feira passada, dia 2/6], quando ela expôs o caso. Além disso, lembramos que Livinho representa o Funk, que faz parte do movimento negro do Brasil e luta junto contra o racismo”, diz a nota.

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