PM que matou advogada havia sido denunciado por ameaças à vítima

    O policial militar Gilson Teixeira de Souza, assassino confesso de Jurema Bezerra da Silva, é investigado desde agosto de 2013 por ameaças e intimidações à família da vítima

    O policial militar Gilson Teixeira de Souza, 32 anos, assassino confesso da advogada e farmacêutica Jurema Cristiane Bezerra da Silva, 39, e autor dos disparos que atingiram o rosto e a barriga de Gabriela Rocha, 18, e as costas de um irmão de Jurema, de anos 17, na noite de domingo, 22/03, é investigado desde agosto de 2013 por lesão corporal, ameaça e intimidações contra a família da vítima e também contra agentes públicos. Os Boletins de Ocorrência (BOs)  foram registrados no 73° DP (Jaçanã). O PM também foi denunciado na Corregedoria, que arquivou o caso.

    Além de ser acusado de intimidar os familiares de Jurema e os vizinhos da Rua Manoel Lisboa de Moura, no bairro Conjunto Residencial Jova Rural, no extremo da zona norte da capital, o sargento, lotado no 5° Batalhão da Polícia Militar, que atende a região da Vila Maria e Jardim Japão, também é suspeito de ameaçar um oficial de justiça e funcionários da Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU), em 2013, para realizar a remoção da irmã do PM, que residia de forma ilegal no local.

    Há nove anos na Polícia Militar, com passagens por batalhões da zona norte, como o 5° e o 9°,  Souza já tinha diversos BOs decorrentes da disputa de um imóvel da CDHU e também foi alvo de denuncia à  Corregedoria da PM. Porém, mesmo após denúncias tanto na Polícia Civil quanto na Militar, seus superiores não encontraram indícios que poderiam incriminar o sargento.

    De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, “a Corregedoria da Polícia Militar abriu uma sindicância em setembro de 2013 para apurar denúncia da família da vítima de que o PM havia ameaçado e apontado uma arma para ela. O trabalho foi encerrado em novembro do mesmo ano, com a orientação de abertura de procedimento disciplinar no 9º BPM/M, onde o PM estava lotado”.

    A versão da família foi contestada por testemunhas que afirmaram que não houve ameaça do policial e que ele não teria sacado uma arma. A conclusão da sindicância, portanto, foi de que “não havia elementos para a punição do policial”, informa a nota emitida.

    Se a resposta da Corregedoria em favor do PM foi rápida, o mesmo não pode se dizer da Polícia Civil. Quase dois anos após o primeiro BO registrado, ainda não se chegou a uma conclusão sobre a conduta de Gilson Teixeira de Souza. À reportagem, a SSP informou que a vítima registrou BO de ameaça e lesão corporal por parte do PM em agosto de 2013 e representou contra ele em abril de 2014, quando foi instaurado inquérito policial, relatado à Justiça em maio.

    O caso corre em segredo de Justiça na 2ª Vara Criminal, do Foro de Santana. Desde então, o Ministério Público tem pedido diligências e informações novas. O último pedido do MP-SP chegou no dia 3 deste mês e o 73º DP aguarda uma testemunha que já foi intimada duas vezes para prestar depoimento.

    O Ouvidor da Polícia Julio Cesar Neves disse para a reportagem da Ponte  que oficiou o Ministério Público e Corregedoria sobre o caso. Perguntado se havia queixas contra o PM no órgão, informou que, após procura, nada fora encontrado.

    Pela ocorrência de domingo, o policial militar vai responder por homicídio doloso na Justiça comum, e poderá ser expulso assim que o inquérito policial militar for concluído. Souza está detido no presídio Romão Gomes, em São Paulo.

    Motivo da discórdia: um imóvel da CDHU

    As famílias de Jurema e Gilson já se conheciam há muito tempo. Da convivência amistosa, passou-se ao cotidiano de brigas, agressões verbais e até mesmo tentativas de atropelamento por parte do policial, segundo relato do marido da vítima, Antônio João Agostinho.

    O motivo da reviravolta de sentimentos entre os Silva e os Souza, é o imóvel de número 3 da Rua Manoel Lisboa de Moura. Segundo o CDHU, a primeira moradora da residência desistiu do imóvel localizado na quadra 23 e lote 18. Em nota, a CDHU informou que após a desistência conseguiu na Justiça a reintegração de posse e assinou, em 2013,  um financiamento com a família de Jurema.

    Mas em agosto de 2013,  uma equipe da CDHU e um Oficial de Justiça foram impedidos de cumprir o mandado de reintegração por conta das ameaças de um policial militar que se identificou como irmão da ocupante. O fato levou a CDHU a registrar um BO no 73º Distrito Policial.

    A reintegração de posse foi adiada depois que os familiares do PM recorreram à Justiça. A Companhia  agora “aguarda decisão judicial para dar continuidade à ação possessória”, finaliza a nota enviada à reportagem.

    O esforço de Jurema

    Mãe de cinco filhos entre 7 e 20 anos de idade, Jurema Cristiane Bezerra da Silva concluiu duas faculdades e cursava uma terceira. Em 2005, formou-se em Direito, mas segundo seu marido, havia desistido da profissão por “não acreditar nas leis brasileiras”. Em fevereiro deste ano, mais um curso finalizado, desta vez, Farmácia. Agora Jurema cursava a terceira faculdade e esperava se formar em odontologia. Segundo um dos seus filhos, o maior sonho da mãe era vê-los na faculdade. O bebê de 6 meses, que nasceu a partir de um parto cesariano no Hospital São Luiz Gonzaga, e se chamaria Cristiane, em homenagem a avó, não resistiu e morreu na manhã desta quinta-feira, 26/03.

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