‘Ouçam Mirtes, mãe de Miguel’: campanha marca 3 meses de luta por justiça por Miguel

    Menino morreu depois que Sarí Corte Real, patroa de sua mãe, o deixou sozinho no elevador e ele caiu do nono andar de um prédio no centro do Recife. Mirtes Renata, mãe de Miguel e empregada de Sarí, passeava o cachorro da patroa

    Angélica, Mirtes, Fabiula Nascimento e Mariana Nunes participam da campanha | Foto: Divulgação

    Três meses depois da morte do menino Miguel, a família, instituições a sociedade civil e do movimento negro lançam a campanha “Ouçam Mirtes, a mãe de Miguel”, com objetivo de amplificar a voz de Mirtes Renata, mãe da criança, e cobrar da Justiça de Pernambuco que o caso seja concluído com isenção e rapidez. 

    De acordo com os movimentos, há o temor de que o poder financeiro e a influência política de Sarí influenciem no julgamento do caso. 

    Nesta quarta-feira, dia 2, às 18h, será transmitido ao vivo pelo Facebook da Articulação Negra de Pernambuco (Anepe), um vídeo gravado com a participação de Mirtes e apoiadores. A campanha reuniu diversas figuras públicas, atrizes, cantoras, ativistas, parentes de Mirtes e também não famosos que vestem camisas com frases ditas por Mirtes nos últimos meses, em busca de justiça. Lia de Itamaracá, Erika Januza, Mariana Ximenes e Angélica são algumas das mulheres que compõem o movimento.

    A importância de Mirtes Renata, mãe de Miguel, e sua família não estarem sozinhas nesse processo é algo que ela sempre repete. “Isso mostra que a gente não está só, graças a Deus estamos tendo apoio de muita gente. Eu só tenho agradecer por se unirem à minha luta”, conta Mirtes. Toda a mobilização tem renovado as esperanças de que a justiça será feita.

    “Tenho esperanças que vai impactar muita gente porque vai ser uma campanha muito forte. A gente não vai ter só essa, tem outras que já estão sendo articuladas para os próximos meses. Para eles verem que a gente está se movendo, que não vamos desistir, nem deixar cair no esquecimento. Para mostrar a Sarí que o Brasil quer justiça”, continua. 

    Miguel tinha cinco anos quando, no dia 2 de junho, morreu depois de cair do nono andar de um prédio de luxo no Recife, quando estava sob responsabilidade de Sarí Corte Real, patroa de Mirtes Renata, mãe de Miguel, e primeira-dama de Tamandaré. Sarí foi acusada por “abandono de incapaz resultando em morte” com agravante de que o crime aconteceu “em meio a uma conjuntura de calamidade pública”. Ela estava fazendo as unhas no apartamento e deveria cuidar da criança enquanto Mirtes caminhava com a cadela da família.

    “Ela não trataria assim o filho de uma amiga”

    A campanha coloca em evidência algumas frases ditas por Mirtes e que chamam atenção para a gravidade do caso desde que a ex-patroa pôde pagar uma fiança de 20 mil reais e ser liberada para responder em liberdade, até o momento em que o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) apresentou a acusação por abandono de menor com agravante de Sarí.

    A cirandeira Lia de Itamaracá, as atrizes Maeve Jenkins e Mariana Ximenes e Ju Colombo e outras fazem parte da campanha por justiça por Miguel | Foto: Divulgação

    “A fala de Mirtes precisa ser ouvida. Ela quer Justiça por amor ao filho. Essa narrativa tem o poder de mover as estruturas”, destaca a artista plástica Mana Bernardes, responsável pela concepção artística das camisetas. Segundo Mirtes, Mana foi uma das pessoas que a procurou para prestar solidariedade após perder o filho. Mirtes disse que o apoio que ela precisava era para fazer ecoar seu clamor por justiça.

    Assim, frases como “Se é lei, é para todos”, “Ela não teve paciência para cuidar” estampam camisas com cores azul cobalto e branco, fazendo referência à fé católica da família de Miguel, é o que explica a artista plástica. 

    “Eu pedi para me ajudar a fazer alguma coisa para não deixar cair no esquecimento. Ela topou me ajudar, se juntou com o pessoal da Anepe, do Gajop, do Audiovisual, da Rede de Mulheres Negras. Se uniram e fizeram a campanha, que não deixa de ser um pedido de justiça”, conta Mirtes. 

    “A  forma como a vida de Miguel foi ceifada é mais um exemplo das consequências das profundas desigualdades que marcam o Brasil.  Todas as pessoas precisam pensar sobre isso e se posicionar”, defende Mônica Oliveira, da Articulação Negra de Pernambuco (Anepe). 

    O vídeo foi realizado pela Articulação Negra de Pernambuco, Mana Bernardes e a família de Miguel, em parceria com o Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (Gajop), o Coletivo Negritude do Audiovisual em Pernambuco e outros movimentos sociais.

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