‘É preocupante saber que os policiais que estão nas ruas odeiam a população LGBT+’, diz Dennis Pacheco, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, sobre estudo
Chegamos ao episódio 82 com um papo que junta segurança pública e direitos humanos: polícia e LGBTfobia. Baseado em uma pesquisa lançada pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), no começo de agosto, a conversa com Dennis Pacheco, homem gay, negro e pesquisador do FBSP, tentou traçar as delimitações do ódio à população LGBT+ dentro da Polícia Militar brasileira.
“É preocupante saber que os policiais que estão nas ruas odeiam a população LGBT+, principalmente as pessoas trans, que são vulneráveis”, aponta Pacheco. “Pensar as intersecções, entre pessoas LGBTs e pessoas negras, é fundamental para entender o conservadorismo das polícias”.
Apesar dos discursos de PMs contra a população LGBT+, nas redes sociais, ser feito em uma ala chamada de bolsonarista, explica Pacheco, “a pauta contra LGBTs é mais forte do que os elogios ao presidente Jair Bolsonaro”.
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“Então o bolsonarismo está mais preocupado em ser anti-LGBT, do que elogiar ou aprovar aquilo que dá nome ao grupo. Isso releva que é uma identidade construída antes da chegada do Bolsonaro à presidência. O que regimenta esse policial é a subcultura”.
Para Pacheco, dizer que a polícia é racista ou LGBTfóbica ou não “é dizer que existe a possibilidade de uma instituição, que foi moldada e construída em um país racista, não ser dessa forma”.
“Quando a gente pensa racismo estrutural pensamos que as estratégias das instituições são moldadas pelo racismo, o pensamento e as identidades são moldadas pelo racismo. É a mesma coisa para a LGBTfobia. No sentido estrutural, dizer se a polícia é racista ou LGBTfóbica deixa de ser central, a gente entende, de maneira pressuposta, que as instituições tem suas estratégias de intervenção moldadas dessa forma”.
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Os dados do Atlas da Violência de 2020, que apontou que os homicídios de pessoas negras aumentaram 11,5% em onze anos enquanto os dos demais caíram 13% nos últimos dez anos, também foi assunto do bate-papo. “Isso demonstra que temos um problema de racismo que não foi enfrentando corretamente”.
O pesquisador também contou como foi o seu processo de vivência enquanto homem negro e gay para criar sua própria masculinidade dentro de um mundo em que ele não se via representado.
“Eu só pude pensar sobre isso de maneira aberta quando eu entrei na universidade e encontrei um ambiente mais aberto, isso mostra a importância da educação. Eu cresci de maneira solitária sem poder me abrir sobre essas questões. Existe um vácuo de representatividade, não só da questão racial, mas de relacionamentos que não reproduzam heteronormatividade”.
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