Para o coletivo Gato Preto, de Dusseldorf, na Alemanha, potencial criativo dos guetos é transformador e afrofuturismo é uma linguagem em busca de um mundo melhor
Para além do estigma da criminalidade, a favela é hoje um espaço de criatividade, de efervescência artística e cultural. Uma efervescência que inspira e motiva o trabalho do coletivo Gato Preto. Baseado em Dusseldorf, na Alemanha, o grupo se define como afrofuturista, conceito que aparece em suas músicas, no material audiovisual, na estética de seus integrantes. Nas criações do coletivo como um todo.
“Favela agora é um espaço que está ganhando uma atenção especial, porque está saindo muita arte, muita cultura, é um lugar muito artístico. É onde a arte sai mais forte, mesmo sofrendo com a situação social. Favela não é só criminalidade”, diz a MC Gata Misteriosa, cantora do grupo. O coletivo Gato Preto esteve em São Paulo para se apresentar no festival Favela Sounds, em Brasília, e no espaço cultural Aparelha Luzia, em São Paulo, em dezembro.
Nascida em Moçambique, criada em Lisboa e hoje morando em Dusseldorf, Gata Misteriosa canta várias músicas em português – assim como o Brasil, boa parte da população de Moçambique fala português, um resquício colonial. Durante sua passagem por São Paulo, ela e o beatmaker do Gato Preto, Lee Bass, nascido na Alemanha e filho de pai ganês, falaram à Ponte sobre o trabalho da banda, o conceito de afrofuturismo e o potencial de transformação da arte que vem dos guetos e favelas do planeta.
“Nós fazemos uma música africana e eletrônica. Africana e eletrônica”, enfatizou Gata Misteriosa. O trabalho mais recente do grupo, Tempo, vem com a essência do “rock’n favela funk”, do Rio de Janeiro, dos “township grooves” (grooves das favelas, em tradução livre) da África do Sul, e do “hybrid tech”, o kuduro de Angola.
Lee Bass conta que a banda foi muito inspirada por artistas como Sun Ra e George Clinton, indicados pelo coletivo como alguns dos precursores do afrofuturismo na música. “Wu-Tang Clan tem muitos elementos do afrofuturismo e nos inspirou também” disse. Para nós, o afrofuturismo é uma mistura de música e tecnologia com o futuro, com uma visão de um futuro melhor. Um olhar de como não apenas os negros, mas todos os seres humanos podemos viver juntos em um mundo de paz e harmonia”, definiu.
As empolgantes e explosivas performances ao vivo do grupo combinam batidas eletrônicas, percussão poderosa do senegalês Moussa, que não veio ao Brasil, e a voz vibrante da Gata. Confira no vídeo um pouco da apresentação na Aparelha Luzia e a entrevista que o coletivo Gato Preto deu à Ponte.