‘A ditadura voltou, graças a Deus’, diz guarda ao deter estudantes em SP

    Jovens foram detidos quando faziam panfletagem em frente ao Terminal Central de Campinas (SP); Guarda Civil Metropolitana fez apologia à ditadura e levou os universitários para a Polícia Federal

    João Buza Buzalski, no dia da panfletagem, e Marcela Carbone em foto recente publicada na rede social | Foto: Reprodução Facebook

    Na última terça-feira (16/10), dois estudantes da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) foram detidos enquanto distribuíam material de divulgação do presidenciável Fernando Haddad (PT). Marcela Carbone e João Buza Buzalski foram levados à Polícia Federal e liberados no mesmo dia. De acordo com o CAECO (Centro de Acadêmico do Instituto de Economia), por meio de uma nota oficial lançada em uma rede social, os estudantes estavam  em local permitido para realizar a panfletagem já que estavam fora do Terminal.

    “A alegação para que houvesse tal cerceamento de liberdade foi a de que, tendo como base uma Lei Eleitoral que não permite panfletagens de caráter político em logradouros públicos, não se poderia praticar tal ato naquele local. A grande problemática envolvida em tal conduta dos representantes da segurança pública, no entanto, é que os estudantes estavam em uma área que não condiz com os termos previstos nessa suposta lei. É um ponto tradicional de panfletagem. Sendo assim, houve um claro abuso”, afirma a nota da CAECO.

    O Centro Acadêmico ainda assegura que o local onde os jovens foram detidos é um ponto tradicional para panfletagem e, até então, não haviam relatos de repressão. Quando foram abordados pela Guarda Civil, Marcela e João alegaram que conheciam a legislação eleitoral e que haviam entendido que o portão demarcava o limite físico do Terminal.

    Mesmo assim, o GCM insistiu que o local era proibido e quando os jovens questionaram onde estava escrito a proibição, ele se sentiu ofendido e começou a acuar e constranger os estudantes, apreendendo os materiais de divulgação. Ainda de acordo com a nota, o público começou a se aproximar para ver a confusão. Os jovens foram detidos por crime eleitoral e desacato.

    “Os dois jovens passaram a explicar em voz alta a situação para quem passava. Em dado momento, os jovens afirmaram que tal atitude era autoritária e que se assimilava a uma volta da ditadura militar, ao que o guarda respondeu ‘sim, a ditadura militar voltou, graças a Deus’”, relata em nota a CAECO.

    Em nota enviada à Ponte por e-mail, a Secretaria de Comunicação de Campinas reforçou a tese de que no local era proibido fazer panfletagem e afirmou que os estudantes desrespeitaram as autoridades. “A Guarda Municipal de Campinas em patrulhamento pelo Terminal Central, na manhã da última terça-feira (16/10/2018), identificou a distribuição de propaganda política no local. Por ser proibido fazer propaganda política em próprio público, segundo a legislação eleitoral, os guardas orientaram para que se retirassem do local. Segundo a Secretaria Municipal de Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública, as pessoas se recusaram e passaram a insultar os guardas. Por descumprirem a ordem de saída e ameaçarem os guardas, foram detidos e encaminhados à Polícia Federal para registro da ocorrência”, diz a nota.

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