Crime ocorreu no último domingo (23) na zona sul da capital paulista; “nenhuma viatura quis levar meu filho ao hospital”, diz mãe, que acredita que tiro veio da polícia

A informação que chegou aos ouvidos da auxiliar de limpeza, Tatiane Valentino, 35 anos, no início da noite do domingo (23/10) era que seu filho, um adolescente de 17 anos, teria sofrido um acidente de moto a poucos metros da sua casa, na Vila Caraguatá, na zona sul da cidade de São Paulo, e estava sendo levado para o hospital. Preocupada com o estado de saúde do jovem, sua aflição aumentou quando soube que uma projétil de arma de fogo estava alojada no cérebro dele e esse era o motivo de sua internação.
O jovem estava na garupa de um amigo chamado Miguel quando andavam de moto na avenida Padre Arlindo Vieira. Na altura do número 2817 da via, o filho de Tatiane tombou na pista. Segundo ela, momentos antes, um tiro atingiu o tórax do condutor da moto, saiu pelas costas e acertou a cabeça de Vitor que estava atrás. Pela trajetória da bala, a mãe acredita que o filho tentou se proteger do disparo.
“Meu filho é mais baixo que o Miguel e eu imagino que ele tentou se esconder atrás do amigo quando viu que seria baleado. Miguel diz que ouviu o tiro, mas não percebeu que tinha sido baleado. Ele diz que só sentiu a cabeça do meu filho encostar em suas costas e quando ele fez uma curva, o corpo caiu”, conta Tatiane Valentino.
Na notificação de ocorrência feita quando o jovem foi levado para o Hospital Ipiranga, os policiais militares soldado Constantino e soldado Ferrari informaram no documento que o motivo da ocorrência teria sido um acidente de trânsito com moto. Para Tatiane, o tiro que atingiu a cabeça do seu filho partiu dos policiais.
“Tinha diversas viaturas da polícia no local e nenhum quis levar o meu filho, que foi levado num carro particular. O amigo dele que pilotava a moto está com muito medo, tanto que não recebeu alta do hospital, mas fugiu quando os policiais foram até lá”, diz Tatiane.
Segundo a mãe, testemunhas contaram para ela que os rapazes, que não tinham habilitação para pilotar motos, estavam acelerando o veículo na avenida e isso chamou a atenção dos policiais, que foram atrás deles.
O caso está sendo investigado pelo Corpo Especial de Repressão ao Crime Organizado da Polícia Civil de São Paulo (Cerco). Miguel foi ouvido pelos policiais na quarta-feira (26/10) e Tatiane Valentino prestou depoimento aos policiais um dia antes. Contatado pela reportagem, o delegado Luiz Marturano, que está à frente das investigações, não quis dar entrevista.
Amigos e familiares retratam o rapaz como uma pessoa calma, que trabalha em um lava jato e tem como principal divertimento cantar funk e andar de moto. “Ele estava juntando dinheiro para poder consertar uma moto que eu dei para ele”, conta a mãe.
O adolescente permanece na UTI em estado grave, mas a mãe está confiante que o filho irá se recuperar e com esperança que a polícia consiga elucidar o que ocorreu na noite do último domingo. “Eu quero justiça e quem fez isso com o meu filho pague, porque eu tenho fé que ele vai sair logo do hospital e em breve estará em casa”.
Outro lado
A Ponte questionou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo sobre as investigações do caso, mas até a publicação desta reportagem não obteve resposta.