Segundo o arquiteto José Domingos Filho, Luana nunca advogou para integrantes de facção criminosa ou para qualquer outro preso
A advogada, modelo e jornalista Luana de Almeida Domingos, 32 anos, acusada de fazer parte do braço jurídico do PCC (Primeiro Comando da Capital), jamais havia colocado os pés em uma penitenciária, até ser presa, no início de julho deste ano. Luana também nunca atuou em nenhum processo nem tampouco advogou ou entrou em contato com algum preso ligado à maior facção criminosa do país.
Mesmo assim, ela foi acusada e está sendo processada com outras dezenas de advogados apontados pelo Ministério Público Estadual como pombos correios do crime organizado, no caso específico, aqueles que levam e trazem recados para integrantes do PCC. Documentos obtidos com exclusividade pela Ponte Jornalismo comprovam que Luana nunca entrou numa penitenciária. Especialmente naquelas onde cumprem pena os líderes e outros presos do segundo e terceiro escalões do PCC.
Presa na Operação Ethos, que investiga os acusados de envolvimento na célula jurídica do PCC, Luana está recolhida na Penitenciária Feminina de Tupi Paulista, no oeste do Estado, onde aguarda julgamento, previsto para o próximo dia 11. O juiz responsável pelo processo, Gabriel Medeiros, da 1ª Vara Criminal de Presidente Venceslau, enviou ofício para diretores de cinco presídios, onde geralmente ficam presos os homens da cúpula do PCC.
O magistrado queria saber se Luana havia atendido algum sentenciado ligado ao PCC no período de janeiro de 2015 a novembro de 2016, período em que ocorreram as investigações da Operação Ethos. Os documentos foram enviados para as Penitenciárias 1 e 2 de Presidente Venceslau, Penitenciária 1 de Avaré e CDPs (Centro de Detenção Provisória) de Guarulhos, na Grande São Paulo, e de Pinheiros, na zona oeste da capital. Em todos eles, as respostas foram negativas. Luana jamais ingressou ou participou de atendimento a algum detento dessas unidades prisionais nem mesmo fora delas.
Os advogados de Luana já entraram com dois pedidos de habeas corpus pedindo a liberdade dela. Porém, todos foram negados. Para o Ministério Público Estadual, Luana integra o braço jurídico do PCC, chamado de “sintonia dos gravatas”, e seu código na organização é R35. A letra R significa recursistas.
Já o arquiteto José Domingos Filho, pai de Luana, tem outra versão e garante que a filha é inocente. Meses antes de ser presa, Luana trabalhava como repórter no programa Superpop, exibido na Rede TV. Segundo Domingos, um colega de Luana na emissora Rede TV a apresentou para uma amiga advogada, que até então e sem Luana saber, também era investigada sob suspeita de integrar o “sintonia dos gravatas”.
Domingos diz que Luana foi convidada pela advogada para fazer alguns acompanhamentos processuais em fóruns. Segundo Domingos, a filha recebeu da advogada e-mail com identidade alternativa, que já veio com codinome e senha definidos pela contratante, para comunicações internas. “Minha filha aceitou o pedido para complementar sua renda. Ela nunca pertenceu a nenhuma organização criminosa. Ela jamais entrou num presídio, muito menos advogou”, ressaltou Domingos.
Domingos contou que pelos acompanhamentos processuais realizados entre os meses de agosto a outubro de 2015, Luana recebeu R$ 1.667,00 de honorários e mais R$ 1.727,00 referentes a reembolso de despesas como condução e equipamentos de escritório.
Ele afirmou ainda que em 8 de outubro de 2015, sua filha recebeu outro e-mail. A mensagem comunicava que ela havia sido “desligada da função”. De acordo com Domingos, a filha foi demitida porque se recusou a atuar em um processo, pois não sabia fazer a petição. Domingos detalhou à Ponte como foram realizados os trabalhos por Luana desde o final de agosto e setembro de 2015 até o dia 8 de outubro do mesmo ano, quando ela foi demitida: “Foram dois encontros pessoais, sendo um no dia em que ela foi contratada e no dia em que conheceu o escritório. Ela também foi cinco vezes ao Fórum e trocou oito e-mails lícitos, que aliás foram interceptados e constam no processo”, explicou o arquiteto.
Futuro interrompido
O pai de Luana está desesperado com a situação dela e vive se perguntando: “Que crime minha filha cometeu?”, questiona. Para Domingos, Luana não poderia saber que sua contratante trabalhava para alguma organização criminosa. “Ela nunca conheceu nenhum cliente. Apenas passou vistas em processo. A contratante não mencionou nada ligado ao crime organizado ou ao PCC nos oito e-mails trocados com minha filha. Luana, no mínimo, deveria estar respondendo ao processo em liberdade”, argumentou Domingos.
Por ser advogada, Luana deveria ser mantida em cela de Estado Maior, como determina a lei. Contudo, ela e os demais advogados presos estão recolhidos em celas e em presídios destinados a prisioneiros comuns.
A prisão de Luana interrompeu sua promissora carreira artística. Ela havia sido convidada para atuar como atriz no cinema. “Minha filha é inocente. Sempre trabalhou e foi bem sucedida. Nunca precisou de dinheiro do crime organizado. A injusta prisão dela acabou por destruir nossos sonhos e nossa família”, lamentou Domingos. “Parece que estamos vivendo fora do Estado Democrático de Direito”, acrescentou o arquiteto, inconformado. Bonita, famosa e de família de classe média alta, Luana foi massacrada por setores da imprensa e chamada de “musa do crime”.