Ariel de Castro Alves divulgou uma charge em alusão à participação de PMs nos ataques de Osasco e Barueri. Corporação divulgou uma nota contra o advogado, expondo seu nome e foto
Uma charge de 2012 compartilhada pelo advogado Ariel de Castro Alves em seu perfil pessoal no Facebook, após a série de ataques de Osasco e Barueri, em que 18 pessoas foram mortas e há suspeita de participação de policiais nos crimes, causou indignação na PM-SP (Polícia Militar do Estado de São Paulo). A corporação divulgou uma nota contra o coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos em São Paulo e membro do Condeca (Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente), que, desde então, passou a receber ameaças.
“É de se lamentar o fato de uma pessoa que se diz defensora dos direitos humanos generalizar toda uma classe de trabalhadores por conta de atos supostamente praticados por bandidos que integram temporariamente a Instituição”, afirma a nota assinada pelo Centro de Comunicação Social na noite de quinta-feira (20). A postagem ainda inclui um print screen da página do advogado, com sua foto e nome completo.
O advogado afirma que, após a postagem divulgada na página da corporação, recebeu várias mensagens intimidatórias. “Rapidamente minha página passou a receber dezenas de comentários, chegando quase a 200 comentários na própria postagem da charge ou em outras postagens. Algumas ameaçavam minha integridade, outras me ofendiam com xingamentos e outras me ameaçavam de processos e representações na OAB. A maioria dos autores das mensagens, pelos seus perfis no Facebook, possivelmente eram policiais militares. Em razão da polêmica e da repercussão apaguei a postagem com a charge no mesmo dia”, afirmou à Ponte Jornalismo.
Uma nota foi enviada à SSP (Secretaria da Segurança Pública) na sexta-feira (21) por Alves. Ele pede que a corporação publique a nota para esclarecer o mal entendido. “Não tive a intenção de promover ofensas, discriminações ou estigmatizações generalizadas com relação à Polícia Militar, seus trabalhadores e trabalhadoras e mesmo quanto aos seus símbolos. Minha única intenção foi apresentar meus protestos com relação à possível participação de alguns maus servidores públicos da PM, ou de outras instituições, em chacinas, grupos de cxtermínios e em execuções sumárias, conforme as apurações em curso na cidade de Osasco, além de casos já comprovados no passado”, disse.
“Jamais imaginei que a postagem de uma charge satírica geraria tantas manifestações. Essa charge, que não é da minha autoria, circula na internet e nas redes sociais desde 2012 e nunca tinha gerado essa repercussão. Sempre posto charges referentes à corrupção na política, violência policial, redução da maioridade penal, sobre intolerância e injustiças”, diz o advogado.
Procurada pela Ponte Jornalismo, a Polícia Militar não se manifestou sobre o caso até a divulgação desta reportagem. Para o ouvidor da Polícia de São Paulo, Julio Cesar Neves, “a Polícia Militar do Estado de São Paulo tem o direito de se expressar, mas a nota divulgada é arriscada. Porque é uma indução ao erro por parte de outras pessoas”, disse. “É claro que o Ariel não teve intenção de promover ofensas. Isso daí tem que ficar claro para o comando da PM. Eu acredito que, se a Polícia Militar se sentiu ofendida, tinha que ter processado aquele suposto autor da charge por crime contra honra. Não divulgar uma nota que pode induzir pessoas ao erro.”