Escolha do governador ignorou o nome do candidato mais votado pelos membros do Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana
A Secretaria da Segurança Pública anunciou hoje que o governador Geraldo Alckmin irá reconduzir ao cargo o atual ouvidor das polícias de São Paulo, Júlio Cesar Fernando Neves, para mais um mandato de dois anos.
Além de atual ouvidor, Júlio César Neves é advogado e membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de SP. Foi procurador do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) e assessor da própria Ouvidoria da Polícia de São Paulo.Na semana passada, em entrevista à Ponte, Neves afirmou que uma de suas principais bandeiras é a volta da comissão da letalidade policial, extinta pelo governo em 2011. A letalidade das polícias em São Paulo, segundo ele, é “extremamente alta, principalmente quando se compara com países desenvolvidos”.
O governador tomou sua decisão com base numa lista de três nomes escolhidos pelos membros do Condepe (Conselhor Estadual de Direitos da Pessoa Humana), órgão vinculado à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de SP, em 21 de outubro. A decisão de Alckmin deixou de lado o nome mais votado pelos conselheiros: o do advogado Ariel de Castro Neves, que recebeu quatro votos, enquanto a educadora social Antonia Márcia Araujo Guerra Urquizo Valdívia e o atual ouvidor receberam dois votos cada um.
Dois meses antes das eleições, o candidato mais votado pelo Condepe havia sido vítima de críticas e ameaças após postar em seu Facebook uma charge que criticava as chacinas cometidas por policiais. A crítica partiu do Centro de Comunicação Social da PM, enquanto as ameaças, via redes sociais, vieram de admiradores da polícia. Em 2005, Ariel havia sido atacado pelo próprio Geraldo Alckmin, por sua atuação em defesa das vítimas de maus-tratos na Febem (atual Fundação Casa). Na época, Alckmin disse que Ariel “criava problemas” e “não fazia nada para ajudar”.
Ontem, em entrevista ao jornalista Bruno Ribeiro, do Estadão, o candidato disse não acreditar que seu histórico pudesse atrapalhar a relação com as polícias, já que “as próprias corporações não têm interesse em manter maus policiais, criminosos e corruptos”.