Nesta crônica, escritor Anderson França, o Dinho, desabafa sobre a selfie tirada pelos policiais civis que capturaram o traficante Rogério 157
Tu lembra que ontem eu disse que sem polícia não tem tráfico?
É mais que isso. É o festival de fanfarronice. Eles, os cana com cursinho superior, se sentem num seriado do Chips, tu lembra do Chips? Alô, Malhação, se precisar de polícia figurante, Cidade da Polícia, no Jaca. Os cana do Rio “prenderam” o Rogério 157 e qual o procedimento?
Tirar uma selfie com o chefe do tráfico.
E sorrindo.
FALA MULEKE!
OLHA PRA CÁ. AGORA!
VO BOTA NO INSTA
SIGO DE VOLTA
TROCO LIKES
Tesão pelo amigo? A gente ganha pouco mas se diverte?
E pior que, pela cara do Rogério, eles fizeram isso pra depois ver “Tela Quente” e tomar Coca-Cola. Rogério nem aí. Eles devem ter jogado baralho até 3 da manhã, comendo cone de pizza. E o que é mais curioso é que os cana fizeram uma foto serinho, quase o setor inteiro, de fuzilzinho e farda limpa. E depois, uma selfie gostosa, selfie piranha, com Rogério tranquilão.
A realidade é essa mesmo. Rogério manda. CV manda. Os cana, se fossem sérios, nem sairiam na foto. Cê já viu, mano. Monte de policial morrendo, e os policial fazendo selfie, sorrindo com o traficante.
Geração Nutella vai dominar o mundo, fiel. Ou no fundo, é o que nós sabemos e falamos aqui: é tudo de mentirinha. Tudo cena. Não tem lado A nem lado B. Você aí, achando que tem Bem contra o Mal.
Tô chamando teu Uber pra tu ir a merda. Deixa que eu pago. Cortesia.
Sempre foi assim. Agora é que entramos na era digital.
Me pergunto porque essas mina meteram essa vergonha, essa merda. E esses polícia barbado? Charle bronso? Mano, bandido é bandido, otário é otário.
Tamo na mão do acaso, que esses tiras tão gravando Malhação.
O chefe de polícia disse que vai “apurar o caso” das fotos, mas considera errado. Irmão, isso é o de menos. Pior é o que o alto comando faz.
Rio de Janeiro nunca decepciona.
Fundou a Dharma ACC, a primeira agência de conteúdo criada na Maré em 2011.
Criou o CDhA para desenvolver projetos dedicados ao desenvolvimento sócio-econômico de territórios populares no subúrbio carioca e nas favelas da Zona Norte, entre eles WikiHouse Rio, TEDPrize Global 2013