Corregedoria da PM investiga para tentar descobrir se jovens militares foram castigados
Cinco alunos da Escola de Formação de Soldados da Polícia Militar de São Paulo sofreram lesões nas mãos durante uma aula de educação física, na semana passada, na unidade de treinamento da corporação na cidade de Registro (a 192 km da capital paulista).
Por conta das lesões nas palmas das mãos dos alunos soldados, a Corregedoria (órgão fiscalizador) da PM instaurou um IPM (Inquérito Policial Militar) pelo crime de lesão corporal para apurar a possível responsabilidade de um sargento e de um cabo.
Os dois são os instrutores da turma, que tem 21 alunos soldados, e obrigaram os novatos a fazer flexões de braço em uma quadra poliesportiva que estava com o piso quente por conta do Sol.
Após o término da aula de educação física que causou as queimaduras nas mãos de cinco dos 21 militares novatos, os responsáveis pela Escola de Formação de Soldados da PM em Registro encaminharam todos os alunos para a realização de exames de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal).
Um dos alunos que participaram do exercício, ouvido pela reportagem sob a condição de anonimato, afirmou que o responsável por obrigá-los a fazer flexões de braço no chão quente da quadra poliesportiva é conhecido como sargento Matos.
Por meio do Comando-Geral da PM e da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, a reportagem solicitou entrevista com o sargento Matos, mas o pedido não foi atendido por nenhum dos dois órgãos estaduais.
No mesmo pedido de entrevista com o sargento Matos, a reportagem também solicitou um posicionamento sobre as lesões causadas nos jovens militares ao comandante-geral da PM, coronel Ricardo Gambaroni, e ao secretário da Segurança Pública da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), Alexandre de Moraes, mas nenhum dos dois se pronunciou.
Assim que a Corregedoria da PM foi acionada para investigar os possíveis abusos contra os alunos soldados, uma gravação em áudio começou a circular entre a turma de 21 alunos. Nela, um homem que se identifica como capitão Calegari afirma que “a situação está tomando uma proporção que não deveria ter tomado”. Ele também sustenta que o responsável pela aula de educação física era o sargento Matos.
“A aula de educação física foi onde os alunos acabaram pagando umas flexões [de braço], na quadra, não tem nada de asfalto, aqui dentro do batalhão. E alguns 21 alunos, alguns com algumas lesões mais graves, onde as bolhas das mãos que acabaram estourando. Tinha aluno que tinha vermelhidão nas mãos e não acabou nem fazendo a formação de bolhas”, diz o homem.
“Não tem esse negócio de tortura, não tem esse negócio de abuso de poder. Não tem nada disso. Isso vocês que estão inventando e colocando muita lenha nessa fogueira. A proporção que está tomando isso daí já não está agradando Pirituba [na zona oeste da capital paulista, onde fica um centro de formação de PMs de SP], já não está agradando o coordenador do curso, que sou eu. Isso daí deveria ter ficado onde começou, tá? Fica falando muito. Cada um que conta aumenta um conto, um ponto, e a coisa tá indo para um caminho que não deveria ter tomado. Na segunda-feira [15/15], eu vou conversar com vocês pessoalmente”, termina o homem, no áudio enviado aos alunos soldados.
A reportagem também solicitou entrevista com o capitão Calegari, por meio do Comando-Geral da PM e da Secretaria da Segurança Pública, mas o pedido não foi atendido.
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