Ameaçado com cassação, vereador curitibano Renato Freitas garante que vai seguir na política

Votação em plenário da Câmara de Curitiba sobre a cassação do mandato do petista ocorre na próxima quinta-feira (19). “Prefeito Rafael Greca é meu inimigo número um”, diz parlamentar

Renato Freitas durante protesto na Igreja do Rosário, em Curitiba | Foto: Reprodução / Facebook

O vereador Renato Freitas (PT) não nutre esperança sobre uma possível absolvição no processo de cassação do seu mandato que será votado nesta quinta-feira (19/5), no plenário da Câmara dos Vereadores de Curitiba (PR). Por cinco votos contra dois, o  Conselho de Ética da casa decidiu que o futuro do parlamentar será decidido por todos os seus pares.

Acusado de quebra de decoro por ter participado de um ato dentro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no centro da capital paranaense, em fevereiro deste ano como forma de protesto pela violência contra as pessoas negras. O templo católico foi construído por pessoas negras e voltada para a população escravizada ainda no período colonial.

Desde o dia da manifestação e após a instauração do processo, o vereador diz que a perseguição ao seu mandato intensificou-se. Segundo ele, desde que ele assumiu uma cadeira na Câmara que a intenção dos seus opositores é tirá-lo de lá. O principal deles seria o atual prefeito de Curitiba, Rafael Greca (União Brasil).

“O prefeito tem a Câmara na mão. Dos 38 vereadores, 26 fazem parte da base do governo. Todos eles se vendem por cargos ou por influência política, ou seja, tráfico de informações, influência política ou trâmite interno para garantir pequenas obras para se manter eleito e reeleito”, comenta Renato sobre parte dos parlamentares que irão decidir seu futuro político.

Freitas explica que o conflito com o atual mandatário do poder executivo de Curitiba se deu, principalmente, por sua atuação como coordenador da Comissão Parlamentar em Defesa da População de Rua. O vereador acusa Greca de aporofobia (aversão a pobres) em determinar ações higienistas contra pessoas que não têm onde morar em Curitiba.

“O prefeito Rafael Greca é o meu inimigo número um. Ele é uma pessoa que foi eleita dizendo que não gostava de pobres. Ele falou isso publicamente durante a campanha. A primeira medida administrativa que ele tomou foi fechar o guarda volumes da população em situação de rua da Praça Osório e depois proibiu que as pessoas dessem alimentos para quem mora na rua.”

Durante o período em que o processo de cassação ainda estava no Conselho de Ética, Renato recebeu um e-mail com insultos e ameaças que foi atribuído ao vereador Sidnei Toaldo (Patriota), que é relator do trâmite que julga a conduta de Freitas. Toaldo afirmou não ter sido ele a mandar a mensagem que foi enviada pelo sistema interno da Câmara de Curitiba. Ele registrou ocorrência na polícia pedindo para investigar um possível uso indevido da sua conta.

“O e-mail estava me chamando de negrinho, dizendo que iria me caçar e me xingando de outras coisas mais. Embora eu ache que esse e-mail é esmola demais, no sentido de que eu acho que ele não cometeria um erro tão grave desses, embora eu acredite que ele pense assim, isso daria para a gente a oportunidade de mostrar a verdadeira face dessas pessoas. Eles teriam que suspender o processo de votação para que isso ocorresse”, diz Renato.

Caso seja cassado na próxima quinta-feira, Renato Freitas, além perder o seu mandato como vereador, também perderá os seus direitos políticos, ficando inelegível por oito anos. Ele garante que, se isso ocorrer, irá recorrer na Justiça para tentar reaver o seu cargo. Porém ele sabe que será difícil obter alguma vitória na esfera judicial por conta de como se dá o sistema de poder no Paraná.

“Sou realista em relação ao ambiente político que eu vivo. É provinciano, coronelista e que carrega consigo as piores tradições políticas brasileiras. E numa cidade ainda que se identifica como europeia e, portanto, o berço civilizacional do país. É um nível de arrogância, de prepotência, orgulho e corrupção profunda, principalmente na coisa pública deles. Mas confio no Poder Judiciário”, desabafa.

O vereador faz questão de lembrar que veio da periferia de Curitiba e  das áreas mais violentas da cidade, por isso enfrentou muita coisa para chegar a ser um político com mandato eletivo aos 38 anos. Pelo orgulho que tem por sua trajetória, ela confessa não ter apego ao cargo e que continuará fazendo política junto a comunidade mesmo fora da câmara.

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“Não nasci vereador, não vou morrer vereador. 99% dos parlamentares tem esse instinto de conservação. Entra num dia e no outro já está pensando em como se manter, se reeleger, e ascender na escala do poder. O ser humano é fraco de forma geral. A gente também tem as nossas fraquezas, mas, graças a Deus, essa não é uma delas.”

Outro lado

A Ponte procurou a Prefeitura de Curitiba e a Câmara de Vereadores de Curitiba para entender o processo de cassação de Renato Freitas e questionar sobre a mensagem enviada supostamente pelo vereador Sidnei Toaldo e aguarda resposta.

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